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A ociosa...










Ela tem dois empregos
Faz 7 disciplinas
Um curso de idiomas
Mais um curso de extensão.
Participa de grupos de pesquisa e
Escreve três artigos simultaneamente há meses
Mas não termina nenhum.
Não atende o celular (porque seguidamente o perde)
É negligente com amigos,
Destrata sua vida social
E parece esnobar aqueles que lhe querem mais.
Mas quem disse que lhe falta tempo
Para sonhar com o improvável?
Ter desejos de ventos frescos em dias (a)menos?
Esperar por um cara desengonçado que está sempre atrasado?
Cair em pedidos chorosos de amigos não tão amigos e
Imaginar que tudo isso é sonho, é bom e passa rápido?
Sim, passa rápido.
O ano quase termina já...
E ela já está pensando
Em quais aventuras meter-se nos próximos meses...
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“Um amor mal resolvido do passado pode voltar a mexer com seu coração”
Dizia o horóscopo no jornal.
Eu esperei quase 2 horas sentada no banco da praça
Que fica em frente ao posto de gasolina.
Pensando que o veria antes que chegasse até mim
Porque obviamente ele estacionaria no posto.
Mas não.
Ele não fez isso.
Surgiu subitamente de qualquer direção para a qual eu não olhava
E, como de costume, me surpreendeu no ordinário da vida.
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judicância headbanger

Sexta-feira, no foro central de Gotham. No cartório de uma Vara qualquer, uma advogada e dois assistentes estudantes de direito, todos brancos e vestidos como pessoas comuns, chegam para “juntar subs” e “retirar em carga” três processos, para fazer cópias reprográficas. A funcionária pública que os atende esboça um simpático sorrisinho, e afirma:
“Ah, mas vocês não vão poder nem olhar esses processos, pois eu só posso entregá-los para um advogado”.
A advogada viu-se, então, na necessidade de exercer o discurso de autoridade do seu pseudo doutoramento, devolvendo com o mesmo sorriso simpático a afirmação:
“Ah mas então a gente vai poder olhar os processos sim, porque eu sou advogada”.
Um tanto constrangida, a simpática funcionária disparou aproximadamente 48 vezes o verbete “doutora”, entre risadas desconfortáveis e tentativas de escusar sua negativa de entrega dos autos. Com elogiosos comentários à juventude da “doutora” e a precocidade de sua formação, ela solicitou a carteira da ordem, a fim de “verificar o número de inscrição”, quando na verdade comparava atentamente a foto da carteira com o rosto da “doutora” no balcão. A partir daí todas as frases foram iniciadas ou seguidas com o título “doutora”, anulando-se, pois, a importância do seu prenome. Após a conferência da procuração e preenchimento da guia, a carga dos autos foi feita.
* * *

Mesmo dia, num (distante) foro regional de Gotham. Agora, a advogada está desacompanhada dos dois assistentes e tem como único intento distribuir uma ação. Como há muito tempo não ia naquele foro, achou por bem dirigir-se até o balcão de informações para saber com o funcionário onde ficava a “distribuição”.
- Oi, tudo bem? Tenho que distribuir uma ação. Pode me dizer onde tenho que ir?
- Huum... Tu quer distribuir uma ação?
- Isso.
- É civil ou criminal?
- Cível.
- Ah tá. [Entregando um papel] Daí tu tem que ligar para esse número aqui, nesses horários e pedir para falar com um defensor público.
- Mas eu não preciso de um advogado. Eu sou advogada.
- [Pausa] Ahnn... Tu quer entrar com um processo teu então?
- Aham. - Ah, então é ali naquela porta.
- Ok, obrigada.
* * *

Essas duas situações descrevem as reações provocadas pela minha proposta de exercício de uma “judicância headbanger”, que consiste basicamente em vestir-se como uma pessoa comum, ou seja, fora do padrão de “figurino estereotipado” do que seja uma “doutora”, e tratar as pessoas de maneira respeitosa sem as distinções e afetações jurídicas típicas. Uma maneira de estabelecer uma forma de estranhamento e desconforto (quiçá alguma ruptura mínima) nessa cultura de bacharelismo e de distinção pessoal visual que povoa o mundo jurídico e me parece ridícula e desnecessária.
E vejam que nesse dia eu nem estava usando meu velho all star... :P
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Pílulas da Revolta Cotidiana I

Mês de maio, mês das mães, das noivas e de outras crendices populares iniciou com boas situações da vida (su)real em Gotham. E com peculiaridades tais que me levam a pensar numa “seção” especial para o blog: pílulas da revolta cotidiana seria um bom nome?!?
Bom, inicio aqui uns breves relatos...
Numa segunda-feira qualquer eu fui incumbida, em razão de minhas obrigações profissionais, a comparecer em um evento sobre enfrentamento da violência contra mulheres, no palácio do MP, vulgo forte apache - atribuição, aliás, bem condizente com a postura beligerante dos nobres promotores (de terror) públicos. Pois bem. Na entrada do belo palácio, me deparei com um banner de “boas vindas”, no qual havia a reprodução de uma passagem “Do Contrato Social” de Jean Jacques Rousseau que faz referência à soberania do corpo social, ou seja, da vontade geral, expressa através da lei, em detrimento da vontade individual. E eu, que estava lá para ouvir eles falarem sobre direitos humanos das mulheres, já na entrada, tive certeza de que não havia razão para estar ali...



 
 
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