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Não sou mulher de plástico, não.
dessas progressivamente escovada,
lipoesculpida e com sorriso armado de fêmea fatal.
Sou fatalmente construída de nove partes de carne
Com olheiras, dores e mau humores.
Mas também de sorrisos sinceramente escancarados e
Beijos afetuosamente distribuídos.
Tenho rugas testemunhas do meu tempo bem vivido
E nariz empinado pela mãe que me pariu!
Sou mulher o bastante para conduzir a minha vida
E só a mim devo explicações ou obediência.
Não tenho senhores, servos ou seguidores.
Só respeito gente digna de respeito e sem rancores.
Partilho meu tempo com homem que seja seguro
O bastante para saber o que fazer com ele.
Sou mulher de verdades, que pensa, chora, sente e ri.
Tudo em grande quantidade e na hora que bem entender.
Quem não tem força suficiente para lidar com isso
Que busque uma mulher de plástico
Em qualquer prateleira dos mercados da vida
Onde qualquer coisa se pode comprar
Mas que não venha depois se queixar
Que a vida é sem graça, cansativa ou pouco divertida.
Porque viver de verdade é para poucos e
Cada um escolhe aquilo que consegue suportar...
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Disfarces, passagens secretas e outros subterfúgios...

Ilustra: Brandt Peters

“O medo é a medida da indecisão.” (Lenine)

Para o menino que vive em *Tóquio*.

Ela criava as mais variadas explicações para entender o que acontecera. Por mais inteligente, sagaz e lógica que fosse, poderia passar a vida inteira tentando entender os sentimentos dele, sob suas ternas feições. E ele continuaria sendo um mistério irresolúvel para ela. Era praticamente um enigma ambulante!
Não percebia nenhuma paixão fulminante e, ademais, tudo parecia revestir-se de uma certa inevitabilidade, uma espécie de fatalidade na relação deles. Tinha a impressão de que, por entre suas cortinas de fumaça, entre suas reações indiferentes e impassíveis, havia algum interesse.
No entanto, esse pouco interesse se lhe afigurava como uma armadilha. Colocava-lhe certas ideias na cabeça e ela tinha medo de si com ideias na cabeça. Sabia que não há vítimas em relacionamentos. Que somos apenas vítimas de nós mesmos.
E continuava com a nítida sensação de que havia muito pouco a fazer para seduzi-lo. Não havia como manipular seus sentimentos. Ele era mestre nesses jogos e entrava em todos eles para ganhar. Era tudo ou nada. Ela pagou para ver e, naquele momento, sequer sabia onde estava...

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judicância headbanger II

Terça à tarde. Sol ameno e vento fresco em Gwaybah City.
Lugar de pessoas simpáticas e solícitas.
Olhando a longa avenida que cruza o centro da cidade, de longe avista-se um alto prédio quadrado e cinza que emerge de um grande campo verde ermo. De perto, vê-se miúdas flores amarelas nascidas entre o gramado. É a casa do pai. Ao aproximar-se, é possível ver, ao lado direito (de quem chega) e pouco afastado, um outro prédio igualmente quadrado e cinza, porém um pouco menor, com letras douradas brilhantes. A casa do primogênito.
Aquela que pede bate à porta do pai, com vestes de pessoa comum. Quer ler um livro da paz social.
Antes de entregar o livro de capa rosa, a servidora afirma simpática:
- Para levá-lo para cópias tu tens que deixar tua carteirinha de estagiária ou tua identidade...
- Ah, ok. Respondeu polidamente, retirando da bolsa um cartão profissional.
[olhar de soslaio de cabeça baixa, seguido da entrega do livro, em constrangido silêncio].
 
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