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Das maiores dificuldades que encontro para viver em Madrid, sem sombra de dúvida é conviver com a saudade. Dos meus pais, irmãos, amigos, ex-namorados, parceiros de estudos, trabalhos e festas, obviamente ela existe, mas as distâncias são encurtadas pelo telefone, cartas, messenger e skype.

Falar e ver, ainda que pela telinha cheia de quadradinhos do computador, ajuda a diminuir a falta física que eles fazem nos mais variados momentos. E embora muitas vezes sinta que algumas coisas aqui poderiam ser simplesmente do caralho (não há outra expressão para designá-las) se algumas pessoas estivessem presentes. No entanto, vão-se adaptando as coisas.

O difícil, porém, é suprir a falta daqueles que, por razões outras, não falam ao telefone ou não ficam pacientemente no skype, por vários minutos, interagindo comigo. Daqueles que o principal modo de comunicação é pelo toque suave, pelo olhar lânguido, pelo andar deslizante junto ao meu corpo ou simplesmente pela presença silenciosa que me preenche de paz. Daqueles que me reconhecem e que se fazem únicos pelos cheiros trocados nos nossos contatos. Sim, eu estou falando deles. Felinos.

Viver durante um período longo de tempo sem um gato é uma existência incompleta. Algo simplesmente duro e que nunca ocorrera em minha vida até então. Quando muito, períodos mais estendidos de viagens de 1 mês no máximo, com a volta para o lar recompensada por cabeçadas, carinhos e ronrronos. Mas eu nunca não tive gatos!

Passados dois meses de solidão felina, já começo a sentir crises de abstinência. Tenho a impressão de “sentir o peso” da Preta sobre o edredon durante a noite ou a sensação de que a Mila vai entrar a qualquer momento no quarto. No Carrefour, passar pelo corredor das rações e areias sanitárias resulta em olhos mareados e suspiros tristes de saudades, que imediatamente me levam a imaginar as nossas reações ante nosso reencontro. O apertão contra o peito, o cheirinho na testa, o ronronar na minha orelha, o roçar de bigodes nas canelas ou os sinuosos caminhos traçados por seus corpos entre as minhas pernas.

Por aqui, os gatos são presenças fantasmas. Se existem, estão nos apartamentos, distantes e inacessíveis. Nas regiões onde circulo não é possível vê-los pelas janelas, ruas ou parques. Os poucos que vi até agora, arredios e assustados, parecem viver em locais próximos a restaurantes e bares, dependendo da bondade das sobras, em zonas marginais. Presenças constantes são os cachorros e seus produtos. Vários deles e seus donos. Em qualquer horário ou espaço público.

Já pensei em visitar o abrigo municipal de animais para adoção. Dar-lhes carinho e alguns momentos de atenção por pelo menos um período de tempo. Mas também penso no vínculo, na relação de afeto estabelecida e na nossa abrupta (futura) separação... E esta atitude ganha reforço pela distância em que fica o abrigo, em uma estrada fora da cidade, impondo uma certa exclusão a esses renegados...

Quanto às minhas gatas (lindas!), sei que elas estão bem pelas notícias que recebo e pelas fotos que me mandam. Talvez nem estejam sentindo minha falta ou não darão tanta importância para o nosso reencontro. Provavelmente nem precisem de mim. Seguramente, eu diria. Mas é que, na realidade, eu é que preciso delas. Pois eu é que não nasci pronta...

De outras gatas da minha vida, Mimi (que foi tema de um post anterior) ganhou uma reportagem no Jornal da Universidade deste mês. Nada mais justo para a vida acadêmica que leva. Gracias Tata, por enviar-me digitalizado. Abaixo, a coluna na íntegra.


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uma pausa para o chá...

Galera, depois de alguns dias tentando, finalmente retomei as rédeas do meu próprio blog e me livrei de um cavalo de tróia que o tinha dominado. O bicho havia se instalado no meu gato virtual, de maneira que precisei eliminá-lo. Agora, sequer gato virtual tenho. E fica o alerta aos desavisados: essas frescurinhas de Gadget são portais para entradas de cavalos, vírus, elefantes e camelos. PON OJO ?vale?
Esta semana eu trarei notícias do velho mundo (e algumas não muito boas), retomo os posts e tiro o atraso dos que faltam. Por hoje é isto.
 
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