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Hello yesterday!


2010 foi simplesmente “afudê”. Um marco na minha vida. O ano cuja temporalidade a que estava acostumada foi implodida e minhas experiências diárias (re)questionadas. Resultado de uma sucessão de eventos que se desenrolavam desde 2009 e que, certamente, seguirão ocorrendo ao longo de 2011, ele se construiu, diariamente, em mais de doze meses.
De maneira que pedir que 2011 seja melhor que 2010 é um disparate enorme. Porque ele já está(va) se tecendo antes da virada do calendário...
Desejo sim, que se construam sujeitos e relações melhores para o(s) ano(s) que vierem, hoje! E sempre!
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Eis que a versão tupiniquim do Rambo tornou-se o filme de maior bilheteria da história do país (aspirante à imperialista), acumulando a bela cifra de 102,6 milhões e superando “Avatar”. Além disso, o primo pobre ganhou o título de produção com maior número de expectadores na história do cinema brasileiro (10.736.995 após nove semanas de exibição, desbancando o “brasileríssimo” “Dona Flor e seus dois maridos”, de 1976, com 10.735.525 de expectadores). Tais números são atribuídos (pelo diretor e pela mídia) ao “forte esquema antipirataria”, que contou com dicas do BOPE e incluiu (além da produção de cópias em película de 8mm, apenas, devidamente monitoradas), portas detectoras de metais na sala de exibição e uma rigorosa revista nas bolsas, com apreensão de câmeras e celulares dos convidados da sessão de estreia.
Essa “preocupação com a segurança” surgiu depois que a cópia da primeira parte da saga foi “pirateada”, em 2007, e tornou-se fenômeno de vendas no mercado informal. Estima-se que 11 milhões de pessoas tenham assistido uma cópia “pirata” do filme antes de sua estreia. Inegável, pois, a fina ironia: “nunca antes na história desse país” um filme “vazou” antes do seu lançamento e atingiu tamanho público de maneira ilegal (alguns dos quais não frequentadores de salas de cinema); e tampouco dava-se tanta importância à “segurança” das produções imateriais no país como o fora despendido à sua continuação.
E os filmes tratam, basicamente, de ilegalidades!!!
Nunca soubemos copiar tão bem nossos inspiradores vizinhos ianques como agora...
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¡Feliz Navidad!

Dentre as festividades do calendário de eventos socialmente impostos, definitivamente o Natal é a mais pitoresca. Seria apenas mais uma grande comoção coletiva entre tantas outras, não fosse a turba irritante de hipócritas, (falsos) amigos ocultos e ilustres ausentes ao longo do ano, que resolvem fazerem-se “aparecer” nessa época, com discursos fraternos, requentados e, via de regra, nunca postos em prática. Isso, sim, enoja.
Mas não quero brigar hoje. Não tô a fim. Tratarei de preservar meu fígado,  pois ele precisa de mim nessas horas... E Ho! Ho! Ho! pra ti também!



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Su.jeitinho brasileiro


I

Que Gotham City é uma cidade violenta não há dúvida. O que me preocupa agora é que, talvez, Batman já não esteja dando conta. Em tempos de final de ano (e de década), a intolerância estúpida (perdoem-me a redundância, mas é assim mesmo) anda comendo solta no convívio urbano da província. E aí, lamento informar ao nosso digníssimo (de)formador de opinião sobre o seu erro de cálculo. O problema não é da massa de pobres petulantes que invadem as ruas com seus Chevettes “tubarão”. O problema é generalizado.
Sexta-feira, final de tarde. O sol andava alto e quente. Estacionamento de um grande supermercado. Fila de uma dúzia de carros para sair pela única “cancela” eletrônica (nome sugestivo não?) em funcionamento. E ela não vai bem. Vocês sabem, essas coisas eletrônicas às vezes dão problema. E, em geral, nos piores momentos. Com a relativa demora da cancela e a evidente pressa de alguns citadinos, uma segunda fila lateral passou a se formar. Como falei anteriormente, só havia uma cancela (bem, vocês imaginam o que vai dar não?).
Um cidadão branco, devidamente escanhoado e empoderado por sua recente aquisição, um modelo sedam da fábrica do nosso salvador (de fazer inveja até no homem morcego), simplesmente “pressiona firmemente” uma mulher – que, resignadamente, aguardava sua vez de sair há bons 15 minutos – a dar-lhe seu lugar na fila, inserindo a frente do automóvel diante do dela, com aquele sorrisinho típico de um idiota crendo-se esperto.
Tentando evitar o (ab)uso, a mulher ainda deu umas duas buzinadas breves e gesticulou alguma coisa como “eu também tô aqui na fila há um tempão”. Mas foi em vão. O bonitão fez a do “não é comigo” e se enfiou. Sem qualquer constrangimento, do alto de sua autoridade de macho. Nessas horas sempre penso: eu peito e deixo ele me bater ou arrego pra não me incomodar e aceito o desrespeito alheio? É uma dúvida cruel (como todas que tenho) e sempre lesa: se não meu velho companheiro de aventuras, meu orgulho de fêmea pseudo-liberada.
O segurança do supermercado e eu assistíamos a tudo, impassíveis. Foi quando a mulher resolveu queixar-se a ele. “Fazer o quê, senhora, o cliente tá errado mas já furou a fila”, disse. Eu pensei: “que merda!” Sim. Ele já havia furado a fila e passado na frente dela. Mas agora sorria. Sorria um riso de satisfação e deboche que era transmitido pelo espelho retrovisor. Com um quase gozo doentio, esfregava na cara dela seu prazer de dominador. O segurança, no entanto, apenas queria manter-se no emprego e que as horas passassem. Rápido e sem percalços.

II

Faltava apenas o veículo da frente para o homem cruzar a cancela e tudo aquilo acabar. Foi nesse momento, porém, que ela resolveu parar de vez. Nosso querido macho ibérico, prevendo que teria de esperar uns minutos mais (até que algum técnico viesse abri-la mecanicamente para que todos enfim passassem), não se conteve e resolveu dar uma “rézinha” para evadir-se do lugar em que estava. Obviamente não havia espaço suficiente para o seu sedam realizar esse tipo de manobra. Obviamente isso pouco importava, afinal ele tinha um engate para reboques instalado em seu veículo e obviamente ele não sentiu constrangimento algum ao dar a ré, considerando que esse equipamento protegeria (como de fato protegeu) a lataria de seu carro, em detrimento do amassado que causou no carro da mulher que estava atrás (que não pode fazer outra coisa senão buzinar diante da visão do carro da frente vindo em direção ao seu).
Nessa hora meu senso de justiça, combinado com a minha solidariedade frente ao desrespeito humano, só pode ser expresso na frase “Maldito filho da puta!” que, embora seja uma frase misógina, saiu perfeitamente bem encaixada para aquele cidadão e para o segurança do supermercado que seguia olhando tudo sem tomar nenhuma atitude.
A mulher, porém, no melhor estilo “Um dia de fúria” saiu do carro e foi até o carro do cara. Chegou perto da janela e, ao ver aquele sorrisinho escroto impresso naquela cara (agora) surpresa, gritou a plenos pulmões: “Tu furou a fila e bateu no meu carro! Tu acha bonito isso, mau educado, sem vergonha!?! Tu te prevalece porque eu sou mulher né? Se fosse um homem aqui atrás tu não faria isso, com medo dele encher essa tua cara sem vergonha de porrada, seu palhaço!”
Ela disparava as palavras com uma força, uma fúria e uma propriedade alucinantes. O cara tinha a expressão congelada e apenas repetia mecanicamente “essa mulher é louca, tem que chamar a polícia pra essa mulher!” Louca ou não, ela seguia indignada dizendo: “chama, chama a polícia que nós vamos ver quem tá errado, mau educado, sem vergonha!”
Era uma mulher miúda, de 1 metro e meio que em poucos minutos ficou gigante. E ele de fato sentiu medo. Nesse momento, eu olhei pro segurança do supermercado e falei surpresa: “tu não vai fazer nada?”. Ele me respondeu, com um aparente desdém: “eu não vou me envolver em briga de cliente, senhora. Eu não ganho pra isso”. No fundo, no fundo, acho que ele também sentiu medo. Até eu sentiria.
Ele passou um recado pelo rádio a alguém que veio liberar a cancela. O idiota arrancou o carro em disparada, indignado com a “louca que questionou seu poder dominador”. A mulher seguiu resignada seu caminho, como estava antes dos seus 2 minutos de ira. O segurança continuou ali, parado, olhando o relógio de tempos em tempos e eu, bem, eu fui tomar umas cervejas com umas amigas. Porque nenhuma teoria feminista dá conta disso.
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Oh que amável cara tens!
De rir até cair a dentadura
Parada meia hora na 18 de Julio
Podes informar onde estão as ruas!
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afogamento

Decidi mudar-me. Há tempos procurava outro paradeiro. Decidi fugir do aquário em que vivia depois de muito investigá-lo sem sucesso. Deixar os limites conhecidos e já explorados para me entregar à imensidão do oceano. Ser levada pelas correntes submarinas, pelos cardumes de peixinhos dourados que elas trazem consigo sem saber onde iremos chegar...
Talvez em alto-mar, nas profundezas escuras e frias? Ou quem sabe numa baía tranqüila, de águas translúcidas? Quem saberá? As correntes marítimas não dependem apenas dos movimentos dos astros ou dos desejos dos peixes! Elas sofrem as influências do vento, que também diz a elas para onde ir. E assim nunca se sabe quem traga quem...

6.10.07


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Do manual do Laerte.
No melhor estilo oblíquo e marginal.
 
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