1

Hello yesterday!


2010 foi simplesmente “afudê”. Um marco na minha vida. O ano cuja temporalidade a que estava acostumada foi implodida e minhas experiências diárias (re)questionadas. Resultado de uma sucessão de eventos que se desenrolavam desde 2009 e que, certamente, seguirão ocorrendo ao longo de 2011, ele se construiu, diariamente, em mais de doze meses.
De maneira que pedir que 2011 seja melhor que 2010 é um disparate enorme. Porque ele já está(va) se tecendo antes da virada do calendário...
Desejo sim, que se construam sujeitos e relações melhores para o(s) ano(s) que vierem, hoje! E sempre!
1

ctrl+c, ctrl+v


Eis que a versão tupiniquim do Rambo tornou-se o filme de maior bilheteria da história do país (aspirante à imperialista), acumulando a bela cifra de 102,6 milhões e superando “Avatar”. Além disso, o primo pobre ganhou o título de produção com maior número de expectadores na história do cinema brasileiro (10.736.995 após nove semanas de exibição, desbancando o “brasileríssimo” “Dona Flor e seus dois maridos”, de 1976, com 10.735.525 de expectadores). Tais números são atribuídos (pelo diretor e pela mídia) ao “forte esquema antipirataria”, que contou com dicas do BOPE e incluiu (além da produção de cópias em película de 8mm, apenas, devidamente monitoradas), portas detectoras de metais na sala de exibição e uma rigorosa revista nas bolsas, com apreensão de câmeras e celulares dos convidados da sessão de estreia.
Essa “preocupação com a segurança” surgiu depois que a cópia da primeira parte da saga foi “pirateada”, em 2007, e tornou-se fenômeno de vendas no mercado informal. Estima-se que 11 milhões de pessoas tenham assistido uma cópia “pirata” do filme antes de sua estreia. Inegável, pois, a fina ironia: “nunca antes na história desse país” um filme “vazou” antes do seu lançamento e atingiu tamanho público de maneira ilegal (alguns dos quais não frequentadores de salas de cinema); e tampouco dava-se tanta importância à “segurança” das produções imateriais no país como o fora despendido à sua continuação.
E os filmes tratam, basicamente, de ilegalidades!!!
Nunca soubemos copiar tão bem nossos inspiradores vizinhos ianques como agora...
0

¡Feliz Navidad!

Dentre as festividades do calendário de eventos socialmente impostos, definitivamente o Natal é a mais pitoresca. Seria apenas mais uma grande comoção coletiva entre tantas outras, não fosse a turba irritante de hipócritas, (falsos) amigos ocultos e ilustres ausentes ao longo do ano, que resolvem fazerem-se “aparecer” nessa época, com discursos fraternos, requentados e, via de regra, nunca postos em prática. Isso, sim, enoja.
Mas não quero brigar hoje. Não tô a fim. Tratarei de preservar meu fígado,  pois ele precisa de mim nessas horas... E Ho! Ho! Ho! pra ti também!



1

Su.jeitinho brasileiro


I

Que Gotham City é uma cidade violenta não há dúvida. O que me preocupa agora é que, talvez, Batman já não esteja dando conta. Em tempos de final de ano (e de década), a intolerância estúpida (perdoem-me a redundância, mas é assim mesmo) anda comendo solta no convívio urbano da província. E aí, lamento informar ao nosso digníssimo (de)formador de opinião sobre o seu erro de cálculo. O problema não é da massa de pobres petulantes que invadem as ruas com seus Chevettes “tubarão”. O problema é generalizado.
Sexta-feira, final de tarde. O sol andava alto e quente. Estacionamento de um grande supermercado. Fila de uma dúzia de carros para sair pela única “cancela” eletrônica (nome sugestivo não?) em funcionamento. E ela não vai bem. Vocês sabem, essas coisas eletrônicas às vezes dão problema. E, em geral, nos piores momentos. Com a relativa demora da cancela e a evidente pressa de alguns citadinos, uma segunda fila lateral passou a se formar. Como falei anteriormente, só havia uma cancela (bem, vocês imaginam o que vai dar não?).
Um cidadão branco, devidamente escanhoado e empoderado por sua recente aquisição, um modelo sedam da fábrica do nosso salvador (de fazer inveja até no homem morcego), simplesmente “pressiona firmemente” uma mulher – que, resignadamente, aguardava sua vez de sair há bons 15 minutos – a dar-lhe seu lugar na fila, inserindo a frente do automóvel diante do dela, com aquele sorrisinho típico de um idiota crendo-se esperto.
Tentando evitar o (ab)uso, a mulher ainda deu umas duas buzinadas breves e gesticulou alguma coisa como “eu também tô aqui na fila há um tempão”. Mas foi em vão. O bonitão fez a do “não é comigo” e se enfiou. Sem qualquer constrangimento, do alto de sua autoridade de macho. Nessas horas sempre penso: eu peito e deixo ele me bater ou arrego pra não me incomodar e aceito o desrespeito alheio? É uma dúvida cruel (como todas que tenho) e sempre lesa: se não meu velho companheiro de aventuras, meu orgulho de fêmea pseudo-liberada.
O segurança do supermercado e eu assistíamos a tudo, impassíveis. Foi quando a mulher resolveu queixar-se a ele. “Fazer o quê, senhora, o cliente tá errado mas já furou a fila”, disse. Eu pensei: “que merda!” Sim. Ele já havia furado a fila e passado na frente dela. Mas agora sorria. Sorria um riso de satisfação e deboche que era transmitido pelo espelho retrovisor. Com um quase gozo doentio, esfregava na cara dela seu prazer de dominador. O segurança, no entanto, apenas queria manter-se no emprego e que as horas passassem. Rápido e sem percalços.

II

Faltava apenas o veículo da frente para o homem cruzar a cancela e tudo aquilo acabar. Foi nesse momento, porém, que ela resolveu parar de vez. Nosso querido macho ibérico, prevendo que teria de esperar uns minutos mais (até que algum técnico viesse abri-la mecanicamente para que todos enfim passassem), não se conteve e resolveu dar uma “rézinha” para evadir-se do lugar em que estava. Obviamente não havia espaço suficiente para o seu sedam realizar esse tipo de manobra. Obviamente isso pouco importava, afinal ele tinha um engate para reboques instalado em seu veículo e obviamente ele não sentiu constrangimento algum ao dar a ré, considerando que esse equipamento protegeria (como de fato protegeu) a lataria de seu carro, em detrimento do amassado que causou no carro da mulher que estava atrás (que não pode fazer outra coisa senão buzinar diante da visão do carro da frente vindo em direção ao seu).
Nessa hora meu senso de justiça, combinado com a minha solidariedade frente ao desrespeito humano, só pode ser expresso na frase “Maldito filho da puta!” que, embora seja uma frase misógina, saiu perfeitamente bem encaixada para aquele cidadão e para o segurança do supermercado que seguia olhando tudo sem tomar nenhuma atitude.
A mulher, porém, no melhor estilo “Um dia de fúria” saiu do carro e foi até o carro do cara. Chegou perto da janela e, ao ver aquele sorrisinho escroto impresso naquela cara (agora) surpresa, gritou a plenos pulmões: “Tu furou a fila e bateu no meu carro! Tu acha bonito isso, mau educado, sem vergonha!?! Tu te prevalece porque eu sou mulher né? Se fosse um homem aqui atrás tu não faria isso, com medo dele encher essa tua cara sem vergonha de porrada, seu palhaço!”
Ela disparava as palavras com uma força, uma fúria e uma propriedade alucinantes. O cara tinha a expressão congelada e apenas repetia mecanicamente “essa mulher é louca, tem que chamar a polícia pra essa mulher!” Louca ou não, ela seguia indignada dizendo: “chama, chama a polícia que nós vamos ver quem tá errado, mau educado, sem vergonha!”
Era uma mulher miúda, de 1 metro e meio que em poucos minutos ficou gigante. E ele de fato sentiu medo. Nesse momento, eu olhei pro segurança do supermercado e falei surpresa: “tu não vai fazer nada?”. Ele me respondeu, com um aparente desdém: “eu não vou me envolver em briga de cliente, senhora. Eu não ganho pra isso”. No fundo, no fundo, acho que ele também sentiu medo. Até eu sentiria.
Ele passou um recado pelo rádio a alguém que veio liberar a cancela. O idiota arrancou o carro em disparada, indignado com a “louca que questionou seu poder dominador”. A mulher seguiu resignada seu caminho, como estava antes dos seus 2 minutos de ira. O segurança continuou ali, parado, olhando o relógio de tempos em tempos e eu, bem, eu fui tomar umas cervejas com umas amigas. Porque nenhuma teoria feminista dá conta disso.
0
Oh que amável cara tens!
De rir até cair a dentadura
Parada meia hora na 18 de Julio
Podes informar onde estão as ruas!
0

afogamento

Decidi mudar-me. Há tempos procurava outro paradeiro. Decidi fugir do aquário em que vivia depois de muito investigá-lo sem sucesso. Deixar os limites conhecidos e já explorados para me entregar à imensidão do oceano. Ser levada pelas correntes submarinas, pelos cardumes de peixinhos dourados que elas trazem consigo sem saber onde iremos chegar...
Talvez em alto-mar, nas profundezas escuras e frias? Ou quem sabe numa baía tranqüila, de águas translúcidas? Quem saberá? As correntes marítimas não dependem apenas dos movimentos dos astros ou dos desejos dos peixes! Elas sofrem as influências do vento, que também diz a elas para onde ir. E assim nunca se sabe quem traga quem...

6.10.07


0
Do manual do Laerte.
No melhor estilo oblíquo e marginal.
0

Henry e eu

Ao longo da vida, tive alguns empregos. Uns legais, outros nem tanto. Na faculdade me aventurei no ofício de estagiária muitas vezes. Em uma dessas oportunidades de início de curso, minha atividade se restringia a tirar cópias de processos e atender telefonemas num escritório pequeno e conservador. Nas tardes longas ou quando não havia nada para fazer, tinha autorização para estudar usando os livros da pequena biblioteca disposta na estante alta de mogno, ou ler os processos para me “familiarizar” com as causas dos clientes. Meu chefe pouco (ou quase nunca) aparecia. Passava quase todo o tempo em atividades forenses. Restava ali, além de mim e do mobiliário, um jovem advogado recém-formado, contratado para controlar as causas mais corriqueiras e a mim. Um cara de uns 25 anos, loiro, magro, do interior. Sempre bem barbeado e de ternos cinza ou grafite. Nos momentos mais calmos do escritório ele também lia. Lia muito. Era quieto. Discreto. Parecia tímido. Às vezes, tinha a impressão de que ele não sabia o que fazer comigo. Parecia não saber mandar. Ou não querer fazer isso. Enfim, na maioria das vezes, ele era meu chefe direto. Por meio dele fazia minhas solicitações e justificações ao nosso chefe. Mas éramos econômicos com as palavras. E não raras vezes passávamos a tarde inteira mudos, lendo, cada um no seu canto, movendo-se apenas para passar o mate um ao outro. Foi através dele, em uma dessas tardes, que eu conheci Henry.
Assim, da maneira mais insólita possível, em um pequeno escritório de advocacia, fomos apresentados! Quinta-feira à tarde. Muito calor e pouco trabalho para fazer. O chefe, como de praxe, já tinha saído para as suas atividades externas com os clientes mais importantes.
Eu e o jovem advogado estávamos lá, lendo em silêncio entre um mate e outro. Ele, com seus processos e alguns livros jurídicos. Às vezes parava e se perdia na paisagem do belo jardim do prédio vizinho que se via pela janela. Eu, cansada da recorrência dos temas jurídicos, não raro levava um ou outro livro de poemas, literatura. Enfim, outras paisagens ou algo que me levasse para um mundo distante daquilo tudo. Afinal, eu precisava de ar. Novos ares. Constantemente.
Vendo que eu lia poesia, começamos a falar de literatura. Foi, aliás, a primeira vez que o via falar comigo algo que não era relativo às minhas atividades dali. Soltava frases curtas, um sorriso meio nervoso, entremeados com pequenas pausas, como que se estivesse espargindo pensamentos. Surpresa, eu respondia com frases breves, entre a concisão e o lacônico. Acho que temia assustar o interlocutor e fazer-lhe parar de falar.
Aos poucos, me perguntou o que eu gostava de ler e o que eu já havia lido. Sobre alguns autores, cujas leituras nos eram comuns, sorria timidamente e, de olhos baixos na mesa, tecia pequenos comentários sobre as histórias ou épocas em que os lera. Mas percebendo o ecletismo e a quase incoerência entre outros autores que eu já tinha lido ou os comentários que fazia, não conseguia disfarçar a surpresa, externada por pausas reflexivas ou expressões de sobressalto. Ao final, conversávamos.
Passada uma longa pausa, que parecia significar o fim do diálogo e nos levara às leituras de antes, ele perguntou se eu nunca havia sido apresentada ao Henry. Ante a minha negativa disse, entre a hesitação e a timidez, que achava que eu deveria conhecê-lo, que era um cara muito legal e tínhamos – Henry e eu – algumas coisas em comum, “apesar de tudo”. Esse “apesar de tudo” eu só entendi exatamente tempos depois. Na verdade, naquele momento, estava mais interessada em saber quem se tratava do que por que assim o tratava. Disse que o conhecera há um tempo atrás e que achava que eu iria gostar dele. Escrevia coisas legais. E que, se eu quisesse, poderia me apresentá-lo, inclusive. Eu disse, “ok, eu quero conhecê-lo”.
No dia seguinte, ele trouxe o velho Henry ao escritório. Antes de nos colocar frente a frente, porém, ele teceu algumas observações e fizemos um acordo. Henry era aquele tipo maldito, desbocado e sujo, tradicionalmente não recomendado para jovens garotas como eu. Perguntou se isso não me incomodava e se mesmo assim gostaria de conhecê-lo. Diante da minha afirmação, ainda meio incerto do que fazia, ele deu a segunda recomendação: “Henry não pode circular aqui pelo escritório”. Ele não podia ser visto pelo chefe ou por algum dos raros clientes que iam até ali. Era sexta-feira e eu poderia levá-lo comigo se eu quisesse. E assim solucionamos o problema. Com o meu ok, ele me alcançou um livro meio amarelado, com a capa rosa e um corpo de mulher retratado. Passei os olhos pelo título “Crônicas de um amor louco” e imediatamente o coloquei dentro da minha bolsa. Segui com meus afazeres como se nada tivesse acontecido.
Fui embora e me esqueci daquilo. Naquela noite sai como de costume. Voltei ao amanhecer como de costume e tive uma gigantesca ressaca no dia seguinte como de costume. No sábado à tarde, me sentei na cama e encontrei o livro jogado ao lado da cabeceira. Comecei a lê-lo e só consegui sair dali depois de devorar a última palavra da última página. Foi quando entendi o “apesar de tudo”. Era desbocado, sujo, maldito e escatológico mas também era visceral, autêntico, marginal e lírico. Durante a leitura, lembrava do jovem advogado e, por uns breves instantes, fantasiei que Henry fosse ele, engolido por esse sistema nojento o qual tanto criticava e resistia esbravejando. Escrevia relatos autobiográficos como forma de transgredir aquele seu cotidiano maçante e triste. Talvez fosse o contrário. Talvez ele fosse um tipo como Henry, soterrado por todo aquele monte de merda jurídica. Mas não.
Foto: internet
Na segunda-feira, voltei para a minha rotina no escritório com o velho safado na bolsa. Ao devolvê-lo, só consegui definir a experiência de uma forma, a única que me ocorria naquele momento, quando me foi perguntado “e então?”: “ducaralhu”. Ele abriu seu tímido sorriso ao confessar que “sabia que eu iria gostar do Henry”.
Dessa vez em diante, todas as sextas-feiras ele trazia Henry Chinaski para passar o final de semana comigo. E assim seguimos silenciosamente.

(N. A. : uma memória desencavada do baú por Andrea.)
1

classe média

já me perguntaram "algumas" vezes o que eu acho, acho que acham ou deixam de achar da "guerra contra o tráfico" no RJ... eu me nego a aumentar a rede de absurdos que tem rolado diariamente sobre o tema. lamento decepcioná-los. por ora, deixo um videozinho bem legal, que minha querida amiga Ma-Yara me mandou...

0

receitinha da juventude...

Ainda nessa vibe “remexendo o baú dos tempos idos” uma receita que sua avó não fazia (ou se fazia, era apenas para o seu avô, ao som de Bob Dylan), mas a cozinha maravilhosa de vandinha fazia... ah, se fazia...



Hemp Cookies Alegres

3/4 de xícara de chá de margarina sem sal, 3/4 de xícara de chá de leite, 5g de maconha esfarelada (“esmurrugada”), 1 ovo. Bata por uns 3 minutos e acrescente 3/4 de xícara de chá de açúcar, 1 colher de chá de extrato de amêndoas, 3/4 de colher de chá de noz-moscada triturada. Misture 1 colher de sopa de fermento em pó (1 pacote) e 2 xícaras de chá de farinha de trigo peneirada. Bata na batedeira até virar uma massa homogênea. Coloque numa forma untada e enfarinhada e leve ao forno médio para assar até ficar dourado. Ainda quentes, pode-se acrescentar raspas de chocolate para enfeitar. Melhor se degustado morno.
1

paixão bandida

“Firme no seu processo de aproximação com a música brasileira – exposto até no trocadilho do título ‘O Rock errou’ – Lobão desfilou tocando tamborim pela Mangueira no Carnaval de 1987. Quase ao mesmo tempo iniciava a gestação de um novo disco, que deveria se chamar ‘Da natureza dos lobos’, nome de uma composição sua e de Bernardo Vilhena. A prisão no início do ano anterior [30/12/1986 quando chegava em casa dos estúdios da RCA, portando pequenas quantidades de maconha e cocaína], no entanto, estava longe de ser um caso encerrado. Em fevereiro de 1987, Lobão foi preso no Aeroporto Internacional do Rio ao voltar de Florianópolis com 1 grama de cocaína na bagagem. No mês seguinte, nova prisão pelo mesmo motivo, em Ipanema. Foi condenado a um ano. Mas sua hilaridade diante do juiz Paulo Panza da Vara Criminal da Ilha do Governador, acabou lhe tirando o benefício do sursis. Assim, no dia 20 de maio, Lobão foi encarcerado, primeiro na Polinter e depois no Ponto Zero.

O disco novo trocou de nome – para um mais apropriado “Vida Bandida” – e foi completado por intermédio de vários habeas corpus. A convivência com o submundo nos 32 dias que passou preso naquele ano, aguçaram sua sensibilidade social. Na cela da Polinter consagrada na expressão “alô galera da 11”, Lobão dividiu o boi (buraco no chão a título de privada) com, entre outros, os chefes do tráfico de Manguinhos, Gilmar Negão, e do Morro Santa Marta, Zacarias, ambos membros do famigerado Comando Vermelho. Lá, respeitou e se fez respeitar pelos traficantes. Tanto que, depois, ao subir no Morro da Mangueira, foi recebido com uma salva de tiros ritmados: o soldado de vigia o reconheceu e gritou ‘vidaaa, vida, vida, vidaaa bandidaaa rá-tá-tá-tá...”

DAPIEVE, Arthur. BRock: o rock brasileiro dos anos 80. 2ª ed. São Paulo: editora 34, 1996, pp. 49-50.

O bom da antropologia é que (me) permite pensar criticamente a partir de coisas que gosto (muito). O Rock, por exemplo, de estilo de vida passou a objeto de pesquisa. O Lobão, de paixão da infância a artefato cultural produtor de sentidos...
 
Roqueiros também amam: Lobão e uma fã, depois do show - Foto: by Lobon


0

.velhos restos.

ela era a carne de primeira no balcão do açougue.
o bife fritando no óleo quente da tua chapa.
a sobra (com nervo retorcido) no canto do teu prato,
relegada a resto depois de te fazer sentir-se farto.
agora considerada (apenas mais) uma alternativa
frente à crise da tua bolsa
ou (o desejo de) subida do (teu viril) dólar.
mas,
não tenta mais requentar esse pedaço de carne.
agora é demasiado tarde.
ela virou comida congelada.
com prazo de validade vencido.
.30/10/2008.
0

pede pra entrar!

Um aquece antes do...


encontro com o autor do livro...

0

L7

Exercício daquilo que Foucault chamou um dia de disciplinamento. Disposição seriada dos lugares. 22 alunos. E eu naquela posição desconfortável de “mirante-mirado”. A mesa em diagonal ao quadro verde e, sentada com os apetrechos de mestra dispostos à minha direita, eu exerço meu (pré)(su)posto poder. Quarta-feira à noite. Os alunos sentados. Misto de curiosidade, cansaço e enfado. Tudo o que se mais quer é ir embora. Minha tarefa? Retê-los diante de mim, atentos. Prendê-los em um exame até o final do período. O exame individual. Perguntas. Individualização dos sujeitos e identificação, visando homogeneizar e “formalizar” o indivíduo dentro das relações de poder. Um inquérito. Visibilidade obrigatória, a fim de tentar capturar o que eles pensam sobre o tema. Ironicamente, é possível ouvir os gritos de Janis Joplin dizendo “try yeah, just a little bit harder” vindos do bar, no andar de baixo. Yeah, estamos todos tentando.
Olhando a cena em volta (e incluindo a mim mesma), entre os suspiros e olhares indiretos dos alunos, eu me constranjo um pouco. De estar ali, naquela posição. De reproduzir, assim, tão maquinalmente, aquilo que o filósofo um dia descreveu, que me causa(va) tanto desconforto e que tenho por meta não (re)produzir. Afinal, o formato das aulas do meu “eu-aluna” é tão diferente disso que já me esquecia da rigidez hierárquica em uma sala de aula de um curso jurídico. As performances. E parece que formar juristas prescinde de formas flexíveis, o que põe em xeque a (im)possibilidade de um outro “eu-professor” jurista e de uma outra forma de aula jurídica... Um espaço não tão seriado e quadrado, com ideias formatadas, senão mais aberto e circular, onde as ideias possam transitar, fluidas e em multidireções...

Cuadrados y Angulos

Casas enfiladas,
casas enfiladas,
casas enfiladas.
Cuadrados, cuadrados,
cuadrados.
Casas enfiladas.

La gente ya tiene el alma cuadrada,
Ideas en fila
y ángulo en la espalda.
Yo misma he vertido ayer una lágrima,
Dios mío... cuadrada.

ALFONSINA STORNI (1892-1938)
0


MANIFIESTO

Red Internacional por la Despatologización Trans

L*s activistas y grupos que firmamos este documento y formamos la Red Internacional por la Despatologización de las Identidades Trans denunciamos públicamente, una vez más, la psiquiatrización de nuestras identidades y las graves consecuencias del llamado “trastorno de identidad sexual o de género” (TIG). Del mismo modo, queremos hacer visible la violencia que se ejerce sobre las personas intersexuales mediante los procedimientos médicos vigentes.

Con “psiquiatrización” nombramos la práctica de definir y tratar la transexualidad bajo el estatuto de trastorno mental. Nos referimos, también, a la confusión de identidades y cuerpos no normativos (situados fuera del orden cultural dominante) con identidades y cuerpos patológicos. La psiquiatrización relega a las instituciones médico-psiquiátricas el control sobre las identidades de género. La práctica oficial de dichas instituciones, motivada por intereses estatales, religiosos, económicos y políticos, trabaja sobre los cuerpos de las personas amparando y reproduciendo el binomio de hombre y mujer, haciendo pasar esta postura excluyente por una realidad natural y “verdadera”. Dicho binomio, presupone la existencia única de dos cuerpos (hombre o mujer) y asocia un comportamiento específico a cada uno de ellos (masculino o femenino), a la par que tradicionalmente ha considerado la heterosexualidad como la única relación posible entre ellos. Hoy, denunciando este paradigma, que ha utilizado el argumento de la biología y la naturaleza como justificación del orden social vigente, evidenciamos sus efectos sociales para poner fin a sus pretensiones políticas.

Los cuerpos que no responden anatómicamente a la clasificación médica occidental vigente son catalogados bajo el epígrafe de intersexualidad, condición que, “per se”, es considerada patológica. La clasificación médica, por el contrario, continúa aún hoy en día sin ser interrogada. La transexualidad también es conceptualizada como una realidad en sí mismo problemática. La ideología de género que actúa la psiquiatría, por el contrario, continúa aún hoy sin ser cuestionada.
 Legitimar las normas sociales que constriñen nuestras vivencias y sentires implica invisibilizar y patologizar el resto de opciones existentes, y marcar un único camino que no cuestione el dogma político sobre el que se fundamenta nuestra sociedad: la existencia, única y exclusiva, de solo dos formas de ser y sentir. Si invisibilizar supone intervenir a recién-nacidos intersex (aquell*s con genitales ambiguos funcionales) con violentos tratamientos normalizadores así se hará, si de lo que se trata es de borrar la posibilidad de estos cuerpos y vetar la existencia de las diferencias.

El paradigma en el que se inspiran los procedimientos actuales de atención a la transexualidad y la intersexualidad convierte a estos en procesos médicos de normalización binaria. De “normalización” ya que reducen la diversidad a sólo dos maneras de vivir y habitar el mundo: las consideradas estadística y políticamente “normales”. Y con nuestra crítica a estos procesos resistimos también a tener que adaptarnos a las definiciones psiquiátricas de hombre y mujer para poder vivir nuestras identidades, para que el valor de nuestras vidas sea reconocido sin la renuncia a la diversidad en la que nos constituimos. No acatamos ningún tipo de catalogación, ni etiqueta, ni definición impuesta por parte de la institución médica. Reclamamos nuestro derecho a autodenominarnos.

Actualmente la transexualidad se considera un “trastorno de identidad sexual”, patología mental clasificada en el CIE-10 (Clasificación Internacional de Enfermedades de la Organización Mundial de la Salud) y en el DSM-IV-R (Manual Diagnóstico y Estadístico de Enfermedades Mentales de la Asociación de Psiquiatría Norte-americana). Estas clasificaciones son las que guían a los y las psiquiatras de todo el mundo a la hora de establecer sus diagnósticos. En ellas se comete un error poco casual: la confusión de los efectos de la transfobia con los de la transexualidad. Se invisibiliza la violencia social que se ejerce sobre quienes no se adecuan a las normas de género. De este modo, se ignora activamente que el problema no es la identidad de género, es la transfobia.

La revisión del DSM-IV-R es un proceso que comenzó hace ahora dos años, y tiene por fin determinar los cambios en la lista de enfermedades. En estos últimos meses se han hecho públicos los nombres de los psiquiatras que decidirán el futuro del trastorno de identidad sexual (TIG).

Al frente del grupo de trabajo sobre el TIG se encuentran el Dr.Zucker (director del grupo) y el Dr. Blanchard , entre otros. Estos psiquiatras, que son conocidos por utilizar terapias reparativas de reconducción a homosexuales y a transexuales y que están vinculados a clínicas que intervienen a intersexuales, proponen no solo no retirar el trastorno sino ampliar su tratamiento a l*s niñ*s que presenten comportamientos de género no-normativos y aplicarles terapias reparativas de adaptación al rol de origen. En este sentido, el movimiento trans norteamericano ha hecho un llamamiento solicitando su expulsión del grupo encargado de la revisión del DSM. La Red Internacional por la Despatologización de las Identidades Trans se une sin reservas a la citada denuncia.

La patologización de la transexualidad bajo el “trastorno de identidad sexual” es un gravísimo ejercicio de control y normalización. El tratamiento de este trastorno se lleva a cabo en diferentes centros de todo el mundo. En casos como el del Estado Español, es obligatorio el paso por una evaluación psiquiátrica en las Unidades de Identidad de Género que, en algunas ocasiones, va asociada a un control semanal de nuestra identidad de género a través de terapias de grupo y familiares y todo tipo de procesos denigrantes que vulneran nuestros derechos. En el caso del Estado español, hay que resaltar que cualquier persona que desee cambiar su nombre en la documentación o modificar su cuerpo con hormonas u operaciones debe pasar obligatoriamente por una consulta psiquiátrica.

Por último, nos dirigimos directamente a la clase política. Nuestra demanda es clara:

•Exigimos la retirada de la transexualidad de los manuales de enfermedades mentales (DSM-TR-IV y CIE-10). Paralización de los tratamientos a bebés intersex.
Reivindicamos el derecho a cambiar nuestro nombre y sexo en los documentos oficiales sin tener que pasar por ninguna evaluación médica ni psicológica. Y añadimos que pensamos, firmemente. que el Estado no debería de tener ninguna competencia sobre nuestros nombres, nuestros cuerpos y nuestras identidades.
•Hacemos nuestras las palabras del movimiento feminista en la lucha por el derecho al aborto y el derecho al propio cuerpo: reivindicamos nuestro derecho a decidir libremente si queremos o no modificar nuestros cuerpos y poder llevar a cabo nuestra elección sin impedimentos burocráticos, políticos ni económicos, así como fuera de cualquier tipo de coerción médica. Queremos que los sistemas sanitarios se posicionen frente al trastorno de identidad sexual, reconociendo la transfobia actual que sostiene su clasificación, y replanteen su programa de atención sanitaria a la transexualidad haciendo de la evaluación psiquiátrica una paso innecesario y del acompañamiento psicoterapéutico una opción voluntaria. Exigimos también el cese de las operaciones a recién-nacid*s intersex.
•Denunciamos la extrema vulnerabilidad y las dificultades en el acceso al mercado laboral del colectivo trans. Exigimos que se garantice el acceso al mundo laboral y la puesta en marcha de políticas específicas para acabar con la marginación y la discriminación de nuestro colectivo. Exigimos, además, condiciones de salud y seguridad en el desarrollo del trabajo sexual y el fin del asedio policial a estas personas, así como del tráfico sexual.
•Esta situación de vulnerabilidad se acentúa en el caso de las personas trans inmigradas, que llegan a nuestro país huyendo de situaciones de extrema violencia. Exigimos la concesión inmediata de asilo político en estos casos a la vez que reivindicamos la plena equiparación de derechos de las personas migrantes. Denunciamos los efectos de la política de extranjería actual sobre los sectores socialmente más vulnerables.
•A la vez que gritamos que no somos víctimas sino seres activos y con capacidad de decisión sobre nuestra propia identidad, queremos recordar también todas las agresiones, asesinatos y también los suicidios de las personas trans a causa de la transfobia. Señalamos al sistema como culpable de estas violencias. EL SILENCIO ES COMPLICIDAD.

Finalizamos evidenciando la extrema rigidez con la que se impone el binomio hombre/mujer, como opción única y excluyente, binomio que es construido y puede ser cuestionado. Nuestra sola existencia demuestra la falsedad de estos polos opuestos y señala hacia una realidad plural y diversa. Diversidad que, hoy, dignificamos.

Cuando la medicina y el Estado nos definen como trastornad*s ponen en evidencia que nuestras identidades, nuestras vidas, trastornan su sistema. Por eso decimos que la enfermedad no está en nosotr*s sino en el binarismo de género.

Anunciamos que la Red Internacional por la Despatologización de las Identidades Trans surge para consolidar una coordinación mundial en torno a un primer objetivo: la descatalogación de la transexualidad del DSM-TR en el año 2012. Un primer paso por la diversidad, un primer golpe a la transfobia.

¡Por la diversidad de nuestros cuerpos y nuestras identidades!

¡La transfobia nos enferma!


0

el último suspiro de una estrella moribunda

uma noite sem dormir
apresentação de mais uma pesquisa aventureira, transitória e violenta
reflexões e visões em um horizonte distante, distante
almoço na Lanchera com uma grande parceira de viagens várias
dia de sol, ventinho ameno e Gotham de céu azul, azul...
quem disse que o paraíso e o inferno não são o mesmo lugar?


Imagen captada pelo telescopio Hubble da morte de uma estrela. Mais...
0

A(s) Ciência(s) a serviço de que(m)? Ou para (des)entender o (in)humano

J.C.M.S., 32 anos na época do fato, foi interpelado pela Polícia Rodoviária Federal na BR-158, entre os Estados de Mato Grosso e Tocantins, por excesso de velocidade. Ao verificar os documentos do veículo, o patrulheiro constatou o IPVA exercícios 2013, 2014 e 2015 vencidos, motivo pelo qual o veículo fora recolhido. O condutor apresentava alterações na fala, confusão mental e agressividade, indicando uso de substância entorpecente ilícita, constatada no exame toxicológico de fls. 10 e identificada como sendo “globiscamina”, motivo pelo qual fora autuado em flagrante por excesso de velocidade e direção sob uso de substância entorpecente. Em revista efetuada no interior do veículo foram encontradas 18 caixas de referida substância, 34 ampolas cujo conteúdo não possuía identificação, 54 seringas descartáveis e uma bolsa térmica. O acusado alegou que referida substância era utilizada para uso pessoal, como analgésico, eis que possuía neurastenia crônica. Afirmou desconhecer estar acima do limite de velocidade, bem como possuir impostos do veículo não pagos.

Lavrado o flagrante, o inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público que procedeu com a denúncia. O juízo recebeu a denúncia por tráfico ilícito de entorpecentes. O acusado foi citado, interrogado e o processo transcorreu em normalidade. Nos autos constatou-se a materialidade dos fatos alegados, conforme exames juntados. Quando interrogado, o acusado confessou estar de posse de referida substância, alegando, no entanto, que era para uso próprio. Comprovada a autoria e materialidade, fora acolhida a acusação e condenado o denunciado. Na sentença, fica evidente a grande reprovabilidade da conduta, totalmente nociva ao meio social, bem como a personalidade violenta do acusado que reagira com resistência e agressividade à autoridade policial. Conduta social desabonadora, ao expor a saúde pública a perigo, face ao delito que praticou. A pena imposta foi de 8 anos e 5 dias de prisão em regime inicial fechado.

Iniciou o cumprimento da pena na Cadeia Pública da cidade de Valas/MT, em cela individual, dividida com outros 12 reclusos. Após 7 meses de cumprimento, o apenado passou a desenvolver atitude de isolamento e histeria, recusando alimentação e tendo crises recorrentes de choro. Avaliado pela junta médica e psiquiátrica, foi constatado quadro depressivo agudo, com relato de ilusões auditivas mais frequentes no período noturno. Recomendada a conversão da pena privativa de liberdade em medida de segurança, pelo prazo de 3 anos prorrogáveis, a ser cumprida em hospital psiquiátrico forense daquela cidade.

Encaminhado ao hospital de custódia, o internado relata no exame psiquiátrico dores no peito, fadiga, falta de ar e crises de pânico, desde que fora recolhido na Cadeia Pública. Alega que suas dores de cabeça agravaram-se e que lhe eram fornecidas 2 aspirinas por semana. Informa episódios noturnos com pesadelos e ilusões auditivas utilizados como justifica de suas duas tentativas de suicídio.

Quanto ao crime praticado, nega os fatos elaborando quadro paranóide. Afirma tratar-se de um antropólogo, que desenvolve uma mapeamento genético das comunidades indígenas do Parque Nacional do Xingu e que está sendo perseguido pelas autoridades locais. Diz que a substância encontrada consigo era o medicamento que utilizava para a neurastenia e que, mesmo em grande quantidade, era para consumo próprio. Afirma que as ampolas, seringas e bolsa térmica encontrados em seu poder era seu material de pesquisa, utilizados para a coleta de sangue de seus pesquisados. Fala com fluidez e desenvoltura e não demonstra arrependimento dos fatos praticados. Alterna uma postura vitimizada com um discurso rebelde e ameaçador. Relata que mudou-se para o Mato Grosso aos 15 anos para trabalhar, deixando sua mãe e irmão no interior de Quaraí/RS.

Quanto ao histórico de vida, há registros de que não conheceu o pai, que foi morto antes de seu nascimento. A mãe trabalhava em um bar na beira da BR-290 e foi presa duas vezes por desacato à autoridade. Perdeu o contato com os familiares a mais de 8 anos, não sabendo precisar onde encontrá-los. Não estabeleceu outros laços familiares, não casou ou possui filhos. Seu único relacionamento afetivo foi aos 24 anos e durou cerca de 9 meses, quando foi rompido sob suspeita de traição, causando-lhe sério trauma a separação. Desde então, passou a morar sozinho, em companhia de 6 gatos.

Através de personalidade rude, demonstra ser arredio e amargurado. Teve diversas tentativas de trabalho, com improdutividade profissional, em tarefas simples e tacanhas. Envolvia-se em brigas, discussões e passou a beber e frequentar bares em regiões de prostituição. A vivência de rejeição e ausência de vínculos afetivos o impulsionaram para a vida criminosa, não possuindo juízo crítico quanto aos atos que pratica. Recita poemas de Fernando Pessoa, canta tangos de Astor Piazolla, adora à Raul Seixas e assedia funcionárias. Investiu contra uma enfermeira, precisando ser medicado e isolado por duas semanas. Entretanto, nega os fatos afirmando que ambos mantêm um romance. Demonstra insensibilidade e frieza no trato com os demais internos, retórica estereotipada do que entende por amor e liberdade, discurso desafiador e visão instrumental e objetificante das demais pessoas. Personalidade manifestamente perigosa, de difícil recuperação, ainda não beneficiado com o tratamento penitenciário. Inapto para o convívio em sociedade.

Recomendo a administração diária de 33ml de globiscamina por via intravenosa, sedação e doses de 500mg de ácido acetilsalicílico, via oral, diárias. Sugiro a restrição de acesso do internado aos livros, jornais e ao rádio como forma de auxiliar no seu tratamento terapêutico, diminuindo, assim, a recorrência dos delírios.

Júlio César Teophilus
Egologista
CREgo 78.541

Valas/Mato Grosso, 6 de julho de 2048.

* * *

Durante o mestrado, fiz duas cadeiras no pós da psicologia. Uma das experiências mais ricas do período, aliás. Além dos colegas serem pessoas incríveis, com os quais compartilhei bons debates e momentos únicos, as aulas eram muito afudê. Em um dos meus surtos, resolvi arriscar e escrever este texto. Estava preparada para levar umas críticas mais duras, óbvio, já que tava metendo a caneta na ferida deles, embora soubesse que não seria linchada por um grupo de psicólogos radicais e a professora não é nenhuma cognitivista-comportamental-behaviorista-or something. Para minha surpresa e honra, não só não fui criticada, como me foi pedida autorização para leitura e discussão do texto em aula. Boa lembrança que me vem hoje, quando o reencontrei entre minhas tralhas...

0

(sobre)transgressão...

Uma vaca da exposição CowParade, chamada de Cowó(p)tica, desapareceu em Porto Alegre. De propriedade do artista Lucas Dalla Costa, Cowó(p)tica teria sido levada entre as 2h e 4h da madrugada desta sexta de onde estava, na Rua Coronel Genuíno esquina com a Rua José do Patrocínio. Conforme a assessoria do evento, o sumiço da vaca, feita em fibra de vidro e em tamanho natural, pode ter contado com a ajuda de mais de uma pessoa. E, até o momento, são desconhecidos os motivos e quem poderia ter tomado tal atitude, tida como inédita no mundo, nestas circunstâncias.
Alguns poderão imaginar que, sendo esse apenas mais um reflexo de uma sociedade desestruturada, cuja corrosão dos valores sociais, morais, religiosos e éticos lhe impele aos caos e à barbárie, certamente, a vaca foi destruída por vândalos sádicos, vendida por uma ninharia para camelôs inescrupulosos ou trocada por pedras de crack.
Outros poderão criar uma relação desse ato com uma noção histórica do “ser gaúcho”, o homem desconhecido e (também por isso) temido, que vagava pelos pagos, supostamente furtando gado e tocando terror nos estancieiros e nos peões detentores de “papeleta de conchavo”. E isso seria, tão só, uma manifestação identitária das tradições regionais. Nada mais.
Há quem avente a possibilidade de esse ato ter um significado localmente identificável e compreensível, desde a teia de relações presentes nas interações citadinas. Assim, se a proposta inicial da instalação era gerar uma interação social com a arte que ela representa, essa conduta pode ser entendida como uma apropriação ressignificada desses sentidos pelos atores sociais locais.
Uns indivíduos acreditarão que se trata de um ato de protesto vegan contra o sistema de produção e consumo de carne, se utilizando da violência da subtração da vaca como uma alegoria à subtração violenta das vidas dos animais criados para alimentar o mercado faminto por carne.
Para alguém, pode ser um cara que, rindo aos borbotões e escutando “Cowboys from Hell” no MP4, a utilizou em um ritual satânico, de acordo com o que a voz na sua cabeça mandava.
Não falta quem seja capaz de apostar que essa é uma estratégia de marketing que, utilizando-se da mídia para noticiar o suposto desaparecimento de uma das vacas, acaba por gerar maior publicidade ao evento.
No entanto, apenas um grupo de pessoas dotadas de reputação ilibada e notório saber tem, de fato, certeza do que aconteceu. "Trata-se evidentemente de um crime", afirmam. Afinal, tem-se uma conduta típica, antijurídica e culpável perfeitamente identificável! Mas essa assertiva por si só não é suficiente para pacificar a questão entre os operadores desse código. Sobretudo quando o caso é dotado de certo ineditismo...
Entre eles, há quem afirme que trata-se de um furto “abigeato”, pois o objeto jurídico é uma vaca que, ainda que não seja semovente, é um animal dotado de cabeça, tronco e membros. Além disso, a conduta delituosa é qualificada pela subtração noturna da coisa, de maneira premeditada e com comunhão de vontades e conjunção de esforços.
Outros defendem tratar-se de crime de dano na instalação que, retirada a coisa móvel do local onde se encontrava, foi inutilizada e/ou deteriorada na sua razão de ser. "Causado o prejuízo na proposta original da instalação, inasfastável, pois, a qualificadora", sabiamente complementam.
Entre outros integrantes do grupo há, ainda, a discussão que garante que o crime em questão é apropriação de coisa achada pois, resta claro que lugar de vaca não é na esquina e ninguém a abandonaria aí. Na melhor das hipóteses, o dono teve a infelicidade de perder o referido animal quando passava no local e, partícipe desse infortúnio, o autor apropriou-se da res perdida e não a devolveu, mesmo sendo absolutamente possível a localização de seu proprietário, afinal, poucas são as pessoas que perdem vacas coloridas na cidade.
Uns poucos defendiam que de fato o autor se apropriara da vaca encontrada na esquina mas, fiel cumpridor dos seus deveres, não a devolveu pois não soube como fazê-lo, já que a norma não especifica a qual autoridade competente deveria dirigir-se e tampouco transcorreu os 15 dias para que pudesse descobrir isso. Assim, afirmavam que, mesmo cometendo crime, minimamente, teria de ser absolvido.

No fundo, no fundo, EU não posso evitar um sorriso diante da sacada desse(s) cara(s) nesse ato de (sobre)transgressão...
Quem souber ou imagina o que tenha acontecido com ela, me conta!
O dono da vaca, inclusive, oferece uma recompensa para quem devolvê-la ou der pistas do seu paradeiro.
E ao acabar de escrever esse texto, soube por uma fonte que uma segunda vaca teria sumido também. Dessa vez, a que estava na Dr. Timóteo... (será???)
0




I'm afraid of Americans
I'm afraid of the world
I'm afraid I can't help it
I'm afraid I can't
I'm afraid of Americans
I'm afraid of the words
I'm afraid I can't help it
I'm afraid I can't
I'm afraid of Americans

God is an American

0

A experiência alemã...

Atividade promovida pelo Grupo de Pesquisa em Ciências Criminais da UFRGS (coordenado pelo anticriminólogo) nos Seminários Abertos de Ciências Criminais: exibição do filme alemão "A experiência" (2001), seguido de debate. Conheço a versão estadunidense e alemã dessa história. E só quero ver o que esses dois debatedores aí vão falar sobre...
0
Eu tenho uma dor em mim que dói
Uma dor de separação
E dói muito
E aperta o peito
E eu choro
Tá chegando um tempo de despedida
Mas eu não quero
Deus! Eu não quero
Por quê tem de ser agora?
Não precisava ser agora
Não podia
E eu choro
Quando olho pra ti
Quando te toco
E quando tu não está aqui
Ao reconhecer que assim será minha vida
Sem ti
Dói muito
E eu choro
Dói não poder evitar a partida
Dói não conseguir fazer passar a dor
Do sofrimento
Da despedida
Da ausência

0

CAT LOVERS DAY

Para mim, o dia escolhido para o Cat Lovers Day não poderia ter sido mais propício!
Uma honra, aliás!
É importante divulgar o prazer e a alegria que significa contar com a companhia de um bichano, desfazer preconceitos e estereótipos idiotas que existem sobre gatos e, mais do que isso, destacar as peculiaridades desses animais, os cuidados diferenciados que necessitam e a importância de termos profissionais especializados em atendê-los.
Adorei a ideia e, por mim, ela se propaga internacionalmente.


O #catloversday é uma iniciativa das amigas Lui Pinheiro, Rê Prado e Tata Corrêa, que escolheram como dia 29 DE SETEMBRO, aleatoriamente, o dia para que todos os apaixonados por felinos demonstrem seu amor na internet.

A iniciativa segue a mecânica de várias outras ações de sucesso online: no dia marcado, as pessoas trocam seus avatares, substituindo por fotos de ou com felinos. Além dos avatares do Twitter, as fotos serão postadas no perfil do Tumblr:
http://catloversday.tumblr.com/

O objetivo principal da ação além do envolvimento emocional de criadores e amantes de felinos, é chamar atenção das pessoas para os cuidados especiais que os felinos merecem, e muitas vezes são desprezados.

Será disponibilizado um selo para divulgação em blogs, para gerar maior envolvimento.
Acesse: http://loucadosgatos.blogspot.com/
Os perfis e contatos criados para a ação e das organizadoras são:

Twitter: @catloversday
Email: catloversday@gmail.com
Perfil no Tumblr onde serão postados os avatares e fotos: http://catloversday.tumblr.com
0

0

Eventos


Observatório Interdisciplinar de Direitos Humanos (ILEA/UFRGS) 

Núcleo de Antropologia e Cidadania (PPGAS/UFRGS)

CONVIDAM PARA A:

Jornada Direitos Humanos, Políticas de Estado e Práticas de Justiça

13, 14 e 15 de outubro de 2010.

Av. Bento Gonçalves, 9500 - Campus do Vale - UFRGS

Auditório do ILEA e Panteon - IFCH

Porto Alegre, RS.

PROGRAMAÇÃO


13 de outubro – Quarta-feira – Auditório do ILEA
13:30 - Abertura – Denise Jardim (NACi) e Fernando Seffner (GEERGE & Observatório-ILEA)
14:00 – Auditório do ILEA

Migrações Contemporâneas e Direitos Humanos

Pilar Uriarte – (NACi) Entre África e as Américas: Juventude, imigração e circulação internacional
Fanny Longa (NACi) - Experiências de deslocamento forçado e violência no território dos wayuu do sul da Guajira colombiana: reflexões sobre práticas de moralização do comportamento feminino pela violência para-estatal.
Daniel Etcheverry – (NACi) Um antropólogo entre campos de pesquisa, imigrações na América Latina e EU.

Debatedor: Pe Joaquim (Igreja Pompéia/Cibai – Migrações)
Coord: Alex Martins Moraes (NACi)

14 outubro – Quinta-feira - 13:30 – Auditório do ILEA

Políticas de Estado e Práticas de Governo: olhares sobre o campo da saúde

Lucenira Kessler (NACi): Imbricações políticas nas práticas cotidianas do Sistema Único de Saúde- SUS: Entre o saber nativo e o fazer antropológico.
Laura López (UNISINOS)– Políticas, significados e redes em torno da Saúde da População Negra
Pedro Nascimento (UFAL)– Concepções sobre o “direito” de ter filhos: políticas de saúde e os discursos sobre acesso a serviços de reprodução assistida.

Coord e Debatedora: Heloisa Paim (NACi)

14 de outubro – Quinta-feira - 18:30 –Panteon/IFCH

Práticas de Justiça: cruzando temas sobre a promoção da cidadania

Patrice Schuch (UNB)– Feitiço ou Fetiche da Lei? Antropologia e o estudo dos direitos.
Fernanda Ribeiro (PUC-RS)-Entre queixas e autoridades: crianças, família e agentes de proteção.
Mayra Lafouz (NACi)– Percurso para o reconhecimento: a territorialidade dos faxinais no Paraná”

Coord e Debatedora: Sinara Porto Fajardo (NACi/ALERGS)

15 de outubro – Sexta-feira - 13:30 – Auditório do ILEA

Conhecimento e a promoção da cidadania

Raquel Mombelli (NUER/SC; Pós doutoranda do Instituto Brasil Plural) – Quilombos e poderes públicos: convergências e impasses no campo do reconhecimento dos direitos.
Paulo Leivas (MPF)– Reflexões sobre o acesso a medicamentos através da Justiça

Debatedora: Claudia Fonseca (NACi)
Coord: Miriam Chagas (Antropóloga perita do MPF)

Encerramento

Promoção: Observatório Interdisciplinar de Direitos Humanos/ILEA, Núcleo de Antropologia e Cidadania/PPGAS.
Apoio: Departamento de Antropologia, Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UFRGS, FAPERGS, CAPES e CNPq.
Comissão organizadora: Alex Martins Moraes, Alexandre Peres de Lima, Ana Paula Arosi, Cassio de Albuquerque Maffioletti, Denise Jardim, Daniel Etcheverry, Heloisa Paim, Larissa Cykman de Paula, Lucas Besen.
0

Usos de Drogas na Contemporaneidade


I Seminário Usos de Drogas na Contemporaneidade: outras perspectivas em debate

Dia 07 de outubro de 2010, no Pantheon do IFCH / Campus do Vale - UFRGS

Os usos de drogas constituem, na contemporaneidade, uma questão que vem assumindo importância cada vez maior, na medida em que tem sido associada a uma miríade de problemáticas sociais, atravessando diversos campos, como a saúde, a educação e a segurança pública. Ao mesmo tempo, o... modo como a mídia e mesmo a Academia têm tratado do tema tem sido predominantemente através das perspectivas biomédicas, as quais, por vezes, secundarizam a importância dos aspectos históricos, políticos, sociais e culturais que condicionam a constituição e a percepção das práticas de uso de drogas como um problema social. Além disso, há uma disseminação, principalmente nas abordagens mais midiáticas, de enfoques que muitas vezes restringem as possibilidades de pensamento sobre o tema das drogas a uma dicotomia crime/doença, enfatizando uma polarização entre proibição/legalização e, assim, perdendo oportunidades de empreender abordagens mais matizadas e sintonizadas aos últimos desenvolvimentos da pesquisa sobre o tema na área das ciências humanas. Tais abordagens têm tido, como resultado, um aprofundamento nos processos de estigmatização das pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas ilícitas, o que em nada contribui para que a sociedade possa constituir formas menos problemáticas de intervenção sobre essas práticas. O que se tem, em boa medida, em conseqüência disso, é um debate bloqueado.

Nesse contexto, o I Seminário Usos de drogas na contemporaneidade: outras perspectivas em debate visa fomentar a discussão e a pesquisa acerca do tema dos usos de drogas na contemporaneidade através da apresentação de abordagens e pesquisas desenvolvidas por acadêmicos de reconhecida relevância no campo das ciências humanas no Brasil, os quais têm apresentado nos últimos anos significativas contribuições para uma compreensão mais ampla dos modos pelos quais práticas de uso de drogas, que ocorrem há milênios e nas mais diversas culturas conhecidas, puderam se tornar, na cultura ocidental contemporânea, um problema cuja magnitude tem abalado os mais fundamentais laços que dão sustentação à vida social.

Programação:

Mesa 1 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 10 horas): Tráfico de drogas, violência e segurança pública: aspectos jurídicos e sociais

Dr. Salo de Carvalho (Prof. Direito/UFRGS)
Ms. Marcos Rolim (Doutorando em Sociologia/UFRGS, Prof. de Direitos Humanos/IPA, Consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos)

Mesa 2 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 14 horas): Usos de drogas na teia dos saberes e poderes

Ms. Maurício Fiore (Doutorando em Ciências Sociais/UNICAMP)
Ms. Jardel Loeck (Doutorando em Antropologia/UFRGS)

Mesa 3 (Pantheon-IFCH, 07/10/10 – 16 horas): Usos de drogas: controles (im)possíveis, controles (in)desejáveis

Dr. Henrique Carneiro (Prof. História/USP)
Dr. Thiago Rodrigues (Prof. Ciência Política/UFF)

Inscrições:

R$ 5,00
Na Comex, sala 108 do IFCH, no Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Tiago Ribeiro. Ou, no dia do evento, no local.
Serão emitidos certificados de extensão universitária àqueles que tiverem 75% de presença.

Maiores informações, clique aqui
Para visualizar o local, acesse o link
0
Eu sei que o gaúcho é uma construção histórica, política e cultural dos tempos (pós)modernos (e que do outro lado do Prata tá cheio deles também);
Que os “ideais” da Revolução Farroupilha de um governo republicano, abolicionista e com províncias autônomas tiveram outras nuances e uma série de outros interesses (políticos, econômicos, estratégicos etc) por trás;
Que os negros lutaram tanto (ou mais) que os demais “farrapos” por uma causa que em muito pouco lhes ajudou e que ninguém toca nesse assunto;
Que o hino rio-grandense só no século passado adquiriu o peso simbólico que tem hoje;
E, por fim, mas não menos importante, que NENHUMA causa justifica uma guerra.
Eu também sei que a defesa da preservação de uma “história” tão permeável, moldável e mutante no mais das vezes gera discriminação, preconceito e segregação do diferente e é tão perigosa como qualquer construção de “identidade”, “povo”, “nação” de quem quer que seja, conceitos que se formam na relação com o outro de forma etnocêntrica e violenta.
Mas isso tudo não é suficiente para que eu deixe de achar linda a visão do pampa, com o vento que assobia no ouvido e a imagem de um homem de botas e bombachas no lombo de um cavalo (mesmo que nunca tenha vivido no campo). Tampouco deixo de tomar meu mate em qualquer parte do mundo que eu esteja...
Por mais que eu racionalize sobre tudo isso, não consigo deixar de me emocionar ao ouvir o hino (embora até hoje não tenha descoberto quais são as nossas façanhas que servem de modelo à toda Terra).
O relativismo cultural é um exercício de polícia constante que exerço sobre mim. Tão violento quanto o etnocentrismo, seguramente. Mas tento me consolar pensando que talvez eu seja uma gaúcha em constante autocrítica. Hoje não temos nada para comemorar.
Que essa história inventada sirva principalmente para que pensemos sobre como nos fazemos e sobre o que podemos fazer quando nos fazemos.

Ponte da Azenha - óleo sobre tela (1929)
0

Versos en tres tiempos

Tic, tic, tic
Yo escucho los punteros del reloj.
Yo podría encender un cigarrillo,
Calentar el agua,
Hacer un café.
Pero no los hago.
Yo miro la puerta.

Tic, tic, tic,
Yo espero pasar el tiempo.
Yo no fumo más,
Ya tomé el mate,
No bebo café.
Pero imagino el
Tac, tac, tac,
De las llaves en la cerradura de la puerta.

Tic, tic, tic,
Hacen los punteros del reloj,
En su ritmo habitual.
Marcando el tiempo que ya se fue.
Tiempo que no pasa.
Tiempo que no viene.

foto de Fritz
2

A Casa e o Sonho

Sim, eu defendo causas. Variadas causas. Apesar de todo o meu mau humor e a minha descrença em um sem-número de instituições, valores e preceitos dessa sociedade insana na qual vivemos, eu ainda sonho. Sonho, eu diria, mais acordada que dormindo, pois sonhar também cansa e à noite estou um bagaço que só pensa em dormir. E sonhar, mais, mais, sempre mais. Pra quê? Não sei. Talvez para me sentir viva, para ter (mais) um bom motivo para seguir vivendo. Para dar sentido à existência.
O fato é que quando soube da campanha de Andrea Beheregaray só desejei seguir sonhando e chamar meus amigos para sonharem comigo. Sonhemos!, quis gritar. Todos juntos, acreditando que, assim, podemos mudar alguma coisa em nossa existência. Sim, podemos. Uma pequena coisa mudada já muda o eu inteirinho, como suspeitava Clarice Lispector. E replicar um email, ato tão simples e rápido, pode surtir um efeito devastador na existência cotidiana ordinária, simples, igual, cinza.
Ao saber da campanha em prol da Casa do Caio Fernando Abreu, eu só quis ajudar de qualquer forma que eu pudesse. Mandei n emails para minha lista de contato, mobilizei contatos que não são da minha lista, pedi licença para contar a história para vários desconhecidos que ainda não conheci.
Hoje, mais uma “ação sonhadora” será posta no ar... Andrea estará no Programa Camarote na TVCom (canal 36 UHF) para falar um pouco mais sobre essa empreitada. Ousada. Sonhadora. Transgressora do comum sense. Como todo sonho deve ser, aliás.

Ficou com vontade de sonhar também? Assista o Programa Camarote às 21h de hoje, assina a petição, entra na comunidade do orkut, segue o blog ou o twitter, ou simplesmente divulga essa ideia para os teus (não) contatos.
0

aventurarse en otros pagos


Después de pasar por la experiencia migratoria de vivir en España para aprender con los europeos y descubrir que soy más como los argentinos, mexicanos y ecuatorianos que pensaba yo;
Después de conseguir reconocer los distintos acentos del castellano y saber lo que significa ser latinoamericana, quizá ese texto explique la “crisis” por la que paso ahora. Ese encuentro de identidad que al mismo tiempo alivia y alegra, pero también perturba y me duele.


Doscientos años de soledad
Carlos Franz


América latina y la idea de un congreso federal de repúblicas en la sexta cumbre de jefes de Estado de Europa y América latina, celebrada en Madrid, no se aclaró mucho. Salvo confirmar una cosa: Europa se reunió con un fantasma. La Unión Europea, que, con tropiezos y caídas, avanza hacia un gobierno conjunto, enfrentó a casi una treintena de mandatarios de América latina y el Caribe, incapaces de admitir que los represente uno solo.
Si Zapatero hubiera estirado el brazo para saludar a su contraparte latinoamericana, se habría quedado con la mano tendida, estrechando el aire. En doscientos años no hemos sido capaces de acordar un delegado de todos, aunque fuera rotativo. (Nuestra última broma es la Unasur, que prescinde nada menos que de México.).
América latina nació el 22 de junio de 1856, durante una "cumbre" similar, en París. Nació, pero no ha llegado a existir, todavía. En esa fecha, Francisco Bilbao, el liberal y revolucionario chileno, proscripto, excomulgado, pronunció su discurso "Iniciativa de la América. Idea de un congreso federal de las repúblicas". Ante treinta y tantos prominentes exiliados latinoamericanos en Europa, Bilbao registró por primera vez la expresión "América latina". Lanzando esa utopía los animaba a ensanchar sus mentes con una idea más grande que sus patrias: nuestra unidad federal.
Un siglo y medio después, y en el bicentenario de nuestras independencias, apena reconocer que la idea de América latina ha fracasado. Que se quedó en utopía (un no lugar). América latina entra en su tercer siglo más invocada que vista, más virtual que real, más literaria que literal. No en balde la narrativa es uno de los pocos sitios en los que América latina llegó a existir como imagen conjunta.
Nuestros bicentenarios conmemoran, sobre todo, doscientos años de soledad.
¿Cómo salir de esta historia de soledad y fantasmas? Si queremos que América latina deje de ser un espectro en el mundo, tendrá que ser nuestra gente quien les quite el miedo a los políticos (no sería la primera vez). Tendremos que hacernos ciudadanos latinoamericanos nosotros mismos, sin esperar más a que los Estados nos otorguen esa ciudadanía. Pero ¿dónde se convierten en latinoamericanos los latinoamericanos? La respuesta es bien sabida: viviendo fuera de nuestros países.
Aquella treintena triste de latinoamericanos expatriados en París hoy se ha transformado en decenas de millones repartidos por el mundo. Por ejemplo, en España. Donde ya hay un millón y medio de iberoamericanos descubriendo lo parecidos que somos. Mexicanos, colombianos, argentinos, ecuatorianos o chilenos se alivian de sus diferencias y se unen en sus necesidades, cuando se encuentran y se reconocen, más similares que distintos, en los rigores del destierro. En la fila de la inmigración, o la del paro. En el bar de hombres solos, rabiando celos. En las plazas donde las empleadas domésticas vigilan con un ojo a niños ajenos, mientras añoran a los suyos que quedaron lejos. Sobre todo, los latinoamericanos se encuentran y reconocen como tales en los locutorios.
En los locutorios, sobre las celdillas de los teléfonos y las computadoras, se escuchan y mezclan los acentos de media América latina. Desde allí, esas voces nuestras susurran o gritan enviando euros, noticias y besitos a casa. En los locutorios se aprende que los problemas de uno no son tan distintos de los del vecino, aunque él esté llamando a Colombia y yo, a Chile.
La emigración suele contarse como una tragedia de nuestras políticas fallidas. Los latinoamericanos, entre quienes tantos descendemos de extranjeros, sabemos que la emigración también es un apasionante relato de aventuras, ingenio y descubrimientos. Los que emigran no son, necesariamente, los que "sobran", sino esos a quienes les sobra energía, valor y curiosidad. Esta gente, en muchos sentidos la mejor, es la que está reconociéndose como latinoamericana en España. Añádanse los miles de estudiantes que acuden cada año a perfeccionarse. El programa Erasmus tiene como verdadero objetivo enseñar a ser europeos a los jóvenes de este continente. Por su parte, los estudiantes nuestros que vienen a España aprenden una materia secreta, de la que sus gobiernos ni se enteran: cómo ser latinoamericanos. Hay una nueva oportunidad, en estas migraciones del siglo XXI, para el viejo sueño fallido de una América latina unida. No sólo porque nunca antes hubo tantos latinoamericanos reales, en lugar de fantasmales. También porque jamás una comunidad de emigrantes mantuvo tanto contacto con sus patrias lejanas.
Desde sus bulliciosos locutorios, estos latinoamericanos distantes influyen a diario en la vida de sus países de origen. Constituyen, de hecho, una quinta columna que socava las rigideces ancestrales de nuestras sociedades con un potencial de cambio incalculable. El inmigrante de hace un siglo, que enviaba una carta desde Nueva York o Buenos Aires a sus parientes de Sicilia o Galicia, inoculaba una energía irresistible en los jóvenes de su pueblo. Los inmigrantes latinoamericanos de hoy ejercen esa influencia, de viva voz, todos los días. Por teléfono o chats, mediante videollamadas o correos electrónicos. Un aluvión de terabytes de información personalizada fluye hacia la base social de nuestras naciones. El "efecto llamada", que tanto aterra a los xenofóbicos, es lo menos importante en ese flujo. Unos pocos vendrán; la mayor parte no. Lo importante les ocurre a los que se quedan. Porque el mensaje encriptado en esas comunicaciones ya está cambiando nuestras sociedades. Testimoniando lo que es vivir con los valores que nos escasean: la cultura de la libertad y de la responsabilidad individual.
No vamos a idealizar a España. Un país a medio camino del civismo en varios terrenos. Pero no es indiferente el ambiente de mejor democracia, más Estado de Derecho y mayor libertad individual, donde estos nuevos latinoamericanos están probando su valor. Cada inmigrante que "chatea" estas experiencias a sus paisanos confirma implícitamente que, con todas sus imperfecciones, una sociedad más abierta es preferible a los populismos y las demagogias que algunos venden en nuestros pagos. El inmigrante en una sociedad más libre y democrática, hasta cuando le va mal puede decir que, al menos, es dueño de su destino. Con sus desalientos y esperanzas, ese mensaje se trasmite a una audiencia innumerable en nuestro continente, todos los días.
Los jefes de Estado latinoamericanos que vinieron a Madrid por estos días, rigurosamente desunidos, como manda nuestra tradición, harían bien en tomar nota. Puede que esta quinta columna latinoamericana esté cambiando nuestros países, con sus llamadas desde estos humildes locutorios, mucho más que ellos con sus discursos, desde sus altos podios. La treintena de latinoamericanos expatriados a los que arengaba Francisco Bilbao en París se ha transformado en millones. Su ejemplo gesta la unión iberoamericana del futuro. No será pronto ni fácil. Pero no está prohibido soñar que lo veremos: una futura cumbre donde la Unión Europea no tenga que mirar el rostro fragmentado de un fantasma. Sino el de esta América latina que unió a su propia gente.

(c) LA NACION - Argentina - 27/05/10:
*El autor, chileno, es escritor.
 
Copyright © oblogueobliquo