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Vinte e sete
marteladas
no meu tempo
que passa mas
não desfaz a
lembrança do
dia vinte sete
marteladas
no meu peito
que bate na
recordação
que fica mas
não desfaz o
desengano do
dia vinte sete
marteladas
que lembra
minha cabeça
e que dói
no dia
vinte e sete
marteladas
que moem
o que eu sinto
no dia
vinte e sete
marteladas
que doem

em mim.
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Foto: Brassaï

A rua estava deserta. A noite fria.
Uma neblina embranquecida
Fazia com que apenas alguns metros do caminho em frente fosse visível.
Ela voltava do bar, a pé, pelo meio da rua.
O asfalto úmido reluzia uma luz que não tinha.
Estava ela e o silêncio.
De súbito, gritou “MARCOS!” a plenos pulmões,
Com toda sua força e potência,
Prolongando a última sílaba.
E foi possível perceber algumas sombras assustadas
Fugindo do caminho.
Um cachorro, temeroso, latiu ao longe.
Seguiu andando.
Ela, o silêncio e seus passos.
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.cala.frio.

E eu que estava tão alegre e contente
Com o cair da noite me fiz triste.
Esse vento assobiando na janela me fez lembrar
Teu assobiar de um rockinho qualquer

E pude sentir tua mão fria na minha cintura outra vez
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caminhos

Na estrada novamente, hoje. Uma viagem de bus na tarde ensolarada. Nos fones, as velhas bandas de rock que eu escuto desde a adolescência. A paisagem correndo rápida lá fora, nesgas de sol entrando pela janela aberta e o vento sacudindo as cortinas. Apesar do nariz entupido, de uma gripe intempestiva, eu conseguia sentir o cheiro do novo. É com esse vento no rosto que eu me dou conta de como sou feliz em trânsito, comendo estrada, desafixada de qualquer lugar. De como me fascina a porvir dos caminhos. Que venha o novo que coabita o hoje! Gratidão aos que me aceitam e me acolhem entre minhas andanças. E, sobretudo, nas minhas paradas.


 
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