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Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária.
A estabelecer relações ordinárias.
Necessito o êxtase.
Não me adaptarei ao mundo.
Me adapto a mim mesma.

Anaïs Nin
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Última semana na Europa. Últimos dias na Espanha. Deixei essa semana para curtir Madrid, a cidade na qual vivi por 6 meses e na qual estive relativamente pouco na condição de turista. Retornei aos lugares que gosto, repassei meus museus preferidos, as ruas, os lugares e bairros com os quais estabeleci meus laços de afeto e identificação.
Nesse tempo, tive o prazer de ter a companhia de minha colega e amiga mexicana, compartilhar com ela boas risadas, tintos de verano, gritos e festejos na Copa do Mundo de La Roja, antes de me despedir da cidade. Me diverti muito por aqui. Conheci gente maravilhosa. Desfrutei de ótimos momentos.
Já sinto aquele apertinho no peito de deixar aqui um pedaço da minha história, enquanto conto as horas para rever alguns dos rostos mais importantes da minha vida. Sigo no processo de fazer as malas. Mas agora para partir ao Novo Mundo. Meu céu, minha terra, meu sotaque. Minuano. Pampa. Sons. Cheiros. Comidas. Paralelo 30. Família, amigos, amores. Pois como dizia o grande maestro “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.
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Notas de um diálogo natimorto...

Imagine esse diálogo apenas como uma cena. Não sei como pensá-lo de outra forma. Um take de um filmizinho qualquer. Desses produzidos em Hollywood para levantar bilheteria, com todos os velhos clichês possíveis. Pois esse momento foi apenas mais um deles.
Locação: metrô. Em frente ao elevador que leva ao quarto andar negativo da linha 6. Quarta-feira à noite. Algo em torno da meia-noite. Duas pessoas. Um casal. A mulher voltava de uma reunião com amigos em um bar. Estava um pouco “alegre” (e debochada, talvez), mas sob controle. O homem usava uma camiseta da seleção espanhola e sabe-se-lá de onde saíra.


Ele: esse elevador leva para a linha 6, sim?
Ela: sim.
Ele: ah, ok, é que sou americano, não conheço bem...
Ela: (sorrisinho de "já entendi" e afirmação com a cabeça).
(Elevador desce, desce, desce. Ele segue com uma cara amistosa. Parece querer seguir no papo. Ela pensa num banho fresco e na cama)
Ele: e tu, é espanhola?
Ela: não, sou americana.
Ele: (cara de espanto). Ah, sim? Tu não tem sotaque. De onde tu é?
Ela: Brasil.
Ele: (cara de “acho que perdi alguma coisa ou não entendi o que ela falou”)
Ela: Tu também não tem sotaque. Achei que tu fosse italiano (de fato parecia).
Ele: É que eu tento não ter tanto sotaque. Mas... bem, para ti, é melhor italiano que americano? (gracinha logo com quem... ela se segura alguns milésimos de segundos para não dizer, “sim!”).
Ela: não. Para mim, é igual. São todos iguais.
Ele: (cara de “acho que não entendi 2”). Por quê? Não compreendo.
Ela: Espanhóis, americanos, brasileiros, italianos, para mim é tudo igual. É tudo pessoa igual, não tem nem melhor nem pior entre um e outro.
Ele: ah, acho melhor mudarmos o assunto. Não podemos continuar falando disso. Eu não posso concordar contigo.
Ela: (o velho sorriso “consegui tirar você do sério”)
(O metrô chega. Ela espera ele dirigir-se à porta e sentar-se. Senta no outro lado do vagão. Ele a olha de vez em quando. Ela pensa na vida).

(mais do que o normal, percebe-se que estou sensível para as questões “étnicas” aqui...) :P

 
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