Cabeza de mujer llorando - Picasso
Museo de Arte Reina Sofía - Foto: J.

Pensou duas vezes se iria matá-lo.
Em princípio, achou melhor destruí-lo, retirar sua existência medíocre da face da Terra. Mas depois, avaliando melhor, concluiu que deixá-lo vivo, sofrendo as penas de ser ele mesmo seria uma boa vingança.
Pedro é um daqueles seres humanos revoltamente patético. Daqueles exemplares de humanos que não “é”, se é que algum dia “foi”. Nem como substantivo, tampouco verbo, Pedro “é”. Mas, vamos, o mundo está cheio deles... Pessoas que consomem recursos, produzem lixo, CO2 e, não raro, descendentes, mas que não fazem a mínima diferença. A não ser, claro, pelo potencial prejudicante e destrutivo das vidas alheias.
Dividiu um quarto, uma casa, dias de vida com essa criatura que só pensava em si. Só via o bem quando auferia alguma vantagem sobre os demais. Uma honestidade falsa, fundamentada por preceitos católicos rasos (daqueles que baseiam e encobrem as piores atrocidades). Uma humildade pífia, que ocultava, na realidade, um desejo de ser o melhor, o mais bonito e o mais correto à custa do uso e, pior, da subestima alheia.
Aplicação utilitarista dos esforços no contato interpessoal, visando adquirir vantagens ou benefícios. Isso, para ele, seria o equivalente a amizade para outras pessoas. Bom, sendo assim, não tinha amigos. Quando muito, colegas de trabalho, vizinhos e, obviamente, uma família, seio do qual proveio. Que realmente crê que ele é o melhor, o mais bonito e o mais correto, além de ter bom coração, naturalmente. Como ele, católicos por excelência!
Estava em sua vida com propósitos muito específicos. Tinha coisas que ele precisava (temporariamente, frise-se) para fazer mais cômoda sua estada na vida. Reduzir custos, fazer limpezas e, eventualmente, se divertir (quando outras companhias mais interessantes não pudessem ou não quisessem fazê-lo).
Assim viveu com ele por seis anos. No primeiro ano, tudo bem, lindo, sublime. No segundo, algumas características já despontavam dessa personalidade inicialmente tida como “forte”. Bem, uma mentira não se sustenta por muito tempo e, um dia, como uma vaga, é lançada para fora do oceano contra as pedras da costa. Com três anos de convivência, já sabia quem ele era. A partir daí, pensava diariamente em uma forma de matá-lo. Quando não tinha coragem de ir até o final e dar cabo do plano, cometia pequenas mortes diárias (as vezes mais de uma...) e se regozijava silenciosamente ao vê-lo sofrer em parcelas.
Ao final de seis anos, arrumou as malas com alguns poucos pertences de valor sentimental, doou roupas e todo o resto excedente para um albergue de pobres e foi embora. Nada disse. Tomou um ônibus e nunca mais o viu.

1 comentários:

Anónimo dijo...

Pedro existe! E eu sei quem é... eheheh

 
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