almoço no hotel

gotham city. quinta-feira chuvosa. julho de 20**.

[telefone toca]
- e aí, como tu tá?
- beleza. de ressaca, ainda ligada, mas nada de novo...
- porra, não tô conseguindo dormir. já tomei um banho e o resto do vinho, fumei um beck e nada. tô fritando na cama desde a hora que tu saiu. que bagulho fudido aquele de ontem, hein. onde tu pegou aquele pó, mulher?
- [risos] pergunta errada não merece resposta.
- olha só, preciso trepar. talvez me ajude a dormir...
- sério?
- sério. agora.
- olha, só vou sair daqui a uma hora, no intervalo do almoço. posso ir de lotação pra ganhar tempo. que tu acha?
- porra! e vou ter que esperar até a uma hora sem dormir? são dez da manhã! como eu vou trabalhar?
- bom, se tu não quer esperar até a uma vem pra cá e me espera no hotelzinho ali da marechal. invento um papo qualquer aqui e dô um pulo ali pra te encontrar.
- tu acha que consegue ir?
- tu acha que aguenta esperar?
- beleza. levo algo pra comer.
- beleza. leva um vinho também.
- mas não tem mais. bebi o resto que tinha de ontem...
- porra, passa no zaffari antes e pega um. ou leva um beck. e uns pão-de-queijo também. sei lá. leva alguma coisa.
- tá. vou de lotação pra chegar mais rápido.
- falou. bjo

[20 minutos depois, o telefone toca]
- e aí?
- tranquilo. já chegou?
- tô aqui embaixo. desce aí.
[quarto fuleiro em hotel barato. cheiro de umidade e mofo]
- mas que espelunca hein? isso aqui tá foda...
- fica fria, mulher. trouxe o vinho, a ponta que tava fumando e um lençol limpo.
- beleza.

[40minutos depois. suor, bochechas vermelhas, cheiro de mofo e látex no ar]
- que tu disse pra ela? [passa a ponta]
- que tinham me ligado do laboratório e tinha dado problema no exame. que eu tinha que voltar lá pra refazer.
- tu é foda. [pega a garrafa]
- já saquei qual é. ela é hipocondríaca. agora eu chego lá com estas bochas é capaz dela achar que eu chorei, que tô preocupada e me mandar pra casa.
- aí tu vai lá pra casa dormir comigo. [sorriso de satisfação]
- bem capaz! vou pra casa tomar um banho, trocar de roupa. e tu, vê se dorme. hoje é a festa do beto e parece que o lance vai ser violento. a gente tem que tá legal. [passa a ponta]
- porra, é verdade! tinha me esquecido disso. vou pra casa, durmo, depois vou pro trampo. quando sair te ligo. [passa a garrafa]
- beleza. saio da aula às onze e vou ficar pronta te esperando. cadê minha calcinha?
- sei lá. vê se não tá aí no meio do lençol.
- putz... azar! tenho que voltar logo. foda-se a calcinha. [passa a garrafa]
- espera aí que vou te levar até a portaria. [apaga a ponta]

[alguns minutos depois, passos largos, mãos dadas e beijo de despedida na esquina da salgado filho]
- vai lá guria. a gente se vê de noite.
- ok. te cuida. qualquer coisa, me liga.

[10 minutos depois, torpedo no celular]
- achei tua calcinha no bolso da minha jaqueta. perdeu morena! [sorrisinho discreto]
- tarado filho da puta! [sussurro]

1 comentários:

CLB dijo...

eu lembro dessa historia

 
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