A (in)crível maestria da academia (ou Ode ao Fracasso)

O aluno chega na sala atrasado, cheios de papéis soltos presos entre os braços junto à pasta semiaberta. Visivelmente esgotado, mas com certa agitação, entra na fila de alunos diante da mesa do mestre, para receber a avaliação do trabalho entregue na semana anterior, o qual ele passara toda a madrugada escrevendo. Tinha dúvidas acerca de suas construções mentais, se os pontos de “diálogo” que percebera entre os autores estavam corretos e, ainda, se suas reflexões a partir disso faziam sentido.
Ao chegar a sua vez, o professor entrega seu trabalho com um gesto mecânico, sem levantar os olhos da planilha e em total silêncio. Nas folhas, nenhum comentário ou rabisco à caneta. Apenas os caracteres negros de sua impressora que, as vezes, deixa falhas.
Em um misto de curiosidade, ansiedade e dúvidas, de chofre, o aluno pergunta ao professor o que ele havia achado do ensaio, se havia muitos pontos a serem revistos ou reconsiderados.
O mestre, do alto de sua sabedoria, daqueles que não pode perder tempo com bobagens ou ilações prolixas de alunos rasos (eis que reles), afirma com tranquilidade e distanciamento:
"- Teu texto, no geral, tá ok... Não tem muitas coisas para corrigir. Na realidade, eu já o tinha lido, pois tu já havia me entregue ele antes."
A afirmação soou como uma espécie de teste de sanidade. A(s) noite(s) não dormida(s) em frente ao computador poderiam ter-lhe afetado o senso de organização e ter feito com que entregasse o trabalho errado. Mas não. Não havia possibilidade. Afinal, terminara na manhã imediatamente anterior à entrega. Acompanhara a impressão com angústia, pelos ânimos lunares da máquina. Chegara atrasado na aula, mas entregara o ensaio como determinado. Por que o professor lhe dissera aquilo? Teria se confundido? Se equivocado no momento da avaliação?
O que o aluno não sabia (ou não podia crer) é o que o professor sequer passara os olhos sobre as folhas e que mentira sem quaisquer constrangimentos, afinal, era (tão)só um aluno só. E que mesmo procedendo assim com certa habitualidade, fazia questão de ser chamado pelo título antes do nome...

Dedicado a Miguel, o menino a-orientado e a Romualdo, o P(erfeito) H(ipócrita) D(edicado) que "o orienta".

2 comentários:

Juriká dijo...

"INcríVEL" - esse crível subtraído à chance de ser - que os Romualdos mascaram-se muito bem por entre prédios, gavetas e gravatas.

j. dijo...

Esse (IN)contido no crível que, de possibilidade, passa a É. O ser em ato. E próximo. Mais do que imaginamos. E do que parece ser, pois É.

 
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