Uma viagem portuguesa com certeza!

A série de piadinhas, brincadeiras e coisas do gênero que, em geral, os brasileiros fazem com os portugueses não é algo recente e tampouco original: diversos grupos fazem suas piadas internas uns com os outros. Para mim, isso nunca foi tema central de risadas, muito menos algum dia acreditei que os portugueses fossem burros, embora deva admitir que me divirta nesse estilo “etnocêntrico” pegando no pé de amigos paulistas, cariocas e baianos com meus “surtos bairristas” de “gaúcha nata”.

Na real, todos sabemos o quão política são a maioria das construções “culturais” do que seja um português, um baiano ou um gaúcho, bem como que a piadinha do português, do judeu, do negro, do gay, da loira ou do paulista serve, entre outras coisas, para escancarar nosso preconceito velado e nossa discriminação para com os outros. Além de expor uma boa dose de violência que perpassa nosso cotidiano de pessoas civilizadas-normais-pagadoras-de-impostos-e-tementes-à-Deus.

Devemos ter em mente que o meu EU (e o seu também quiridinhu!) só é passível de construção através de um OUTRO, pelo encontro e percepção das diferenças que nós possuímos. Mas até aí, tudo bem. Diferença não é igual à discriminação, assim como identidade não pressupõe preconceito.

Em franca contradição (ou não!) a tudo isso, preciso relatar duas situações que vivenciei essa semana e que me deixaram pensando o quanto não é dessa maneira que se reiteram as piadinhas (e, por derradeiro, o preconceito). Ou seja, não se trata de buscar uma origem para tudo isso, mas ver como uma (ou duas) oportunidades de contato podem servir para formar-se um estereótipo.

Caso 1. Cidade do Porto, em Portugal. Mapa da Rede do metrô. Existem 4 linhas que seguem paralelas entre si e passam pelas mesmas 14 estações. Algo que para mim não faz nenhum sentido, sobretudo quando se está em uma cidade grande e se pode distribuir espacialmente as linhas de maneira mais democrática, de forma a contemplar não só as regiões centrais da cidade, senão as mais periféricas e afastadas. Mas não. Vai entender...




Caso 2. Agora em Lisboa, Portugal. Com outras três amigas entrei no metrô. Falávamos castellano, língua nativa de duas delas. Sentei-me ao lado de um homem que lia o jornal. Seguíamos falando e rindo. Obviamente, meu castelhano tem as marcações do portu-alegrês, minha língua nativa, o que é perceptível e detectável creio eu.
Pois o português que estava ao meu lado lendo o jornal, me chama a atenção e me pergunta, (em português), se eu sabia o que queria dizer uma palavra (em português) no jornal que ele lia. Atendi ao seu chamado (em português) e comecei a ler a frase em questão para dar-lhe minha interpretação do sentido da palavra. A palavra era “roteiro” e não me parecia tão ininteligível assim. Bom, depois de dar alguns sinônimos (em português) e ante as reiteradas afirmações do homem de que não compreendia o que queria dizer, passei a tentar em outros idiomas (castelhano e inglês).

Ele seguia afirmando não entender, até que esgotaram as minhas possibilidades de ajudá-lo. Ele me agradeceu várias vezes (em português), se despediu e desceu na estação seguinte. Segui a conversação com as gurias, que tinham a teoria de que aquilo seria uma cantada. Em momento algum me pareceu. Ou, se foi, é uma modalidade totalmente nova e/ou desconhecida para mim. Na outra estação descemos. Que idioma é necessário para entender as coisas da vida? E eu sigo sem entender nada.
Para além de tudo isso, Portugal é muito legal. Os portugueses são extremamente corteses e solícitos. E é inegável que tem muita coisa que lembra o além mar...

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