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Exercício daquilo que Foucault chamou um dia de disciplinamento. Disposição seriada dos lugares. 22 alunos. E eu naquela posição desconfortável de “mirante-mirado”. A mesa em diagonal ao quadro verde e, sentada com os apetrechos de mestra dispostos à minha direita, eu exerço meu (pré)(su)posto poder. Quarta-feira à noite. Os alunos sentados. Misto de curiosidade, cansaço e enfado. Tudo o que se mais quer é ir embora. Minha tarefa? Retê-los diante de mim, atentos. Prendê-los em um exame até o final do período. O exame individual. Perguntas. Individualização dos sujeitos e identificação, visando homogeneizar e “formalizar” o indivíduo dentro das relações de poder. Um inquérito. Visibilidade obrigatória, a fim de tentar capturar o que eles pensam sobre o tema. Ironicamente, é possível ouvir os gritos de Janis Joplin dizendo “try yeah, just a little bit harder” vindos do bar, no andar de baixo. Yeah, estamos todos tentando.
Olhando a cena em volta (e incluindo a mim mesma), entre os suspiros e olhares indiretos dos alunos, eu me constranjo um pouco. De estar ali, naquela posição. De reproduzir, assim, tão maquinalmente, aquilo que o filósofo um dia descreveu, que me causa(va) tanto desconforto e que tenho por meta não (re)produzir. Afinal, o formato das aulas do meu “eu-aluna” é tão diferente disso que já me esquecia da rigidez hierárquica em uma sala de aula de um curso jurídico. As performances. E parece que formar juristas prescinde de formas flexíveis, o que põe em xeque a (im)possibilidade de um outro “eu-professor” jurista e de uma outra forma de aula jurídica... Um espaço não tão seriado e quadrado, com ideias formatadas, senão mais aberto e circular, onde as ideias possam transitar, fluidas e em multidireções...

Cuadrados y Angulos

Casas enfiladas,
casas enfiladas,
casas enfiladas.
Cuadrados, cuadrados,
cuadrados.
Casas enfiladas.

La gente ya tiene el alma cuadrada,
Ideas en fila
y ángulo en la espalda.
Yo misma he vertido ayer una lágrima,
Dios mío... cuadrada.

ALFONSINA STORNI (1892-1938)

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