13 de Novembro

Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba
(Cazuza)


Eu acordei pensando que, 2 anos atrás, neste dia, eu estava levantando 2 horas mais cedo que o horário normal para te preparar o café da manhã. E as duas torradas, com margarina nos dois pães, o suco de laranja e o café solúvel com leite tinham um ar de nobreza que beirava o poético.
A brancura rósea da tua pele entre os lençóis, salpicada pelas várias pintas esparsas e iluminada por um feixe de luz solar que passava por entre as persianas, te dava um ar pueril, que era reforçado pelo teu semblante preguiçoso, refém do sono da manhã.
            Eu parei diante de ti, 3 passos antes da cama, com a bandeja nas mãos. De todas as memórias daquela manhã, a que (re)surge mais nítida é o teu sorriso de satisfação, ao me ver diante de ti, segurando a bandeja, camiseta dos rolamentos Dana e cabelo preso com uma caneta bic.
            O cheiro do café e das torradas. O meu bom dia cheio de ternura, com aquele sorrisinho tímido bobo e o teu espreguiçar-se com um pequeno gemido, me estendendo os braços com carinho. Eu indo insegura na tua direção segurando a bandeja e a tua reação de pegá-la e colocá-la sobre o criado-mudo me fizeram ingenuamente pensar que algo não estava do teu agrado. E a tua resposta “eu vou TE comer” para o meu frustrado “tu não vai comer?” me fizeram entender que o carinho pelo dia especial era mais complexo, mais cúmplice e mais intenso.
            O café da manhã, feito de café e torradas frios, entremeados com beijos e afagos, após mais uma trepada ao amanhecer era muito mais do que um café da manhã na cama, com um bom dia sem graça seguido de um “Feliz Aniversário”. No final das contas, muito pouco acabou sendo diferente dos demais dias do ano, como na realidade o aniversário é.
            Me dei conta de que tu realmente levava à sério este lance de lembrar (e comemorar) aniversário e o quanto era (e é?!?) importante para ti que isso fosse de alguma forma celebrado. Um simples cartão era causa de uma comoção social. “Como dar um presente sem cartão?” dizia tu. Ainda que fosse um cartãozinho de visitas, pequeno, apenas assinado com os dizeres “Parabéns” ou “Feliz Aniversário”. Significava que, antes de mais nada, a pessoa fora lembrada, o seu dia estava salvo.
E todos os anos eu tomava este cuidado. Para além da lembrança, lembrar de diferentes maneiras, mesmo que eu lembrasse sempre da mesma forma: tu dormindo, naquele emaranhando de cobertas sob aquele raio de sol que passava pela persiana, enquanto eu, com a cabeça meio zonza de ressaca, caminhava pé por pé para a cozinha.

0 comentários:

 
Copyright © oblogueobliquo