Entre tigres...


Os chineses dominarão o mundo. E eu tenho muito medo disso. Por aqui, NÃO HÁ lugar onde eles não estejam presentes. Todos os mercadinhos que vendem quinquilharias mil são dos “chinos”. Algumas coisas vale a pena comprar, sobretudo quando a qualidade e/ou vida útil não estão em jogo. Os preços podem (eu disse podem) ser em conta para algumas coisas. Mas o mais divertido é estabelecer uma relação interétnica para efetuar a compra. Pois, se a gente sabe pouco de espanhol, a maioria deles sabe menos ainda. Aí, os “ruídos” de comunicação produzem situações que vão do bizarro ao hilário.


Bueno, desconsiderando o fato de que eles realmente dizem “aliba” quando querem dizer “arriba” e que eu também tenho de recorrer ao dicionário para saber como pedir uma niqueleira ou um adaptador de tomada (em tempo, é “monedero” e “enchufe”), é preciso expandir o rol de sinônimos, pois, na maioria das vezes, não se é compreendido de pronto. É preciso estar disposto a ir para além dos ordinários limites cotidianos do que se entende por se fazer entender. Entende?


Um exemplo que ocorreu comigo. Precisava de um protetor para o ralo do banho. Aquela tampinha de metal, cheia de furos que entre os espanhóis pode ser chamada de “sumidero”, entre os chinos pode ser chamada de qualquer coisa... eles simplesmente não entendem.


Assim, cheguei lá e tentei realizar a clássica busca visual entre os corredores estreitos e entulhados de artigos diversos, todos misturados, da pequena lojinha. Não encontrando, inicia-se o desafio: perguntar aos chineses se há o objeto buscado. Bom, foi o que eu fiz. Perguntei se tinham um “sumidero”. Pausa seguida de um já conhecido risinho oriental. Nada. “No compreendo”, ele diz. Aí, inicia uma segunda etapa: explicar, através de sinônimos e gestos, o que seria aquilo.


Para poner en la salida del agua del baño”, “donde sale el agua”. Um aceno afirmativo de cabeça, ele me leva a um outro corredor estreito e me apresenta um rodo. “No, no”, digo. “Donde el agua sale". "Objeto de metal" (fazendo gestos de repelir com os braços...). “Aahhhh, porque não disse antes”, ele deve ter pensado. Sacode a cabeça, me leva a um outro corredor e me entrega um pacote de soda cáustica. “No, no, es de metal, para PONER donde SALE el agua”, digo (“gesticulando” e fazendo um círculo com o polegar e o indicador esquerdos, introduzindo o indicador direito. Algo bastante peculiar, aliás, diante daquela pessoa de olhinhos pequenos que me olhava intrigada).


Ele sorri, sacode afirmativamente a cabeça e me leva até o fundo da loja. Pega, em uma das prateleiras, o ralinho de metal “Made in China”. 0,75 de euro. Missão cumprida.


Assim ocorreu com o porta-guardanapos (que primeiro veio uma lixeira) e com uma niqueleira (que me vi com um cofre de porquinho nos braços). Para comerciar com os chinos é preciso tempo, paciência, disposição para se confrontar com o inesperado e, sobretudo, criatividade.


Como (Es)Carla, que contou com a ajuda solidária de um espanhol que estava na loja para explicar ao chinês que queria um aparelho de telefone mais barato que aquele, não se pode desistir no primeiro fracasso. “Ellos no comprenden nada”, disse o espanhol, dando de ombros. No entanto, a gente insiste. E sempre achamos o que buscamos.

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